sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Um sonho de criança...













Otavio Meloni*

Amigos, é grande a emoção que me acomete este post, mas são sempre assim que surgem os grandes deslizes de qualquer literatura e este blog não poderia ficar de fora desta senda de fracassos emotivo-compulsivos. Pois bem, o fato é que o cronista que redige é um completo viciado em jogos simuladores de futebol, principalmente o Pro Evolution Soccer da japonesa KONAMI. 
Acompanho a série desde os primórdios (apud: redação dos meus alunos) do PSONE, quando a versão japonesa do game ainda era a mais conhecida, o famoso Winning Eleven, com narração em japonês, inclusive. As licenças não eram muitas, os uniformes toscos, as redes quadradas, mas era foda! A mulecadinha de hoje deve ver esse jogo e achar que somos doentes em dizer que era bom, mas eles nunca, NUNCA, jogaram futebol no ATARI. O PS2 chegou e logo a série começou a se revolucionar em gráficos melhores, narrações em outras línguas, etc etc etc. Mas o principal ponto em que o PES perdia para seu maior concorrente, o FIFA, eram as licenças dos times, torneios, ligas, jogadores. Meus amigos, sempre muito aficionados pelo futebol europeu nunca deram por falta dos times brasileiros e os outros que por falta deram, se contentavam com os famosos Patches que incluíam o Brasileirão em SÉRIE A e B, além da Libertadores da América, acabando, assim, com outras ligas. Sempre achei estranho a ausência de uma liga brasileira no jogo, tendo em vista que um dos maiores mercados do jogo é o continente americano, de um modo geral. Alguns argumentavam que não fazia sentido ter a liga brasileira disponível, pois na Master League (modo de jogo que popularizou o game em todo o mundo) você teria a "impossibilidade" de um time brasileiro jogando a Champions League... Acho que as pessoas, muitas vezes, esquecem que se trata de um SIMULADOR de futebol. Nesses casos, ao meu ver, a realidade deve ir até certo ponto, se não a diversão toda se perde. Penso assim e até achei errado quando em 2011 a KONAMI incluiu a Libertadores licenciada e não disponibilizou os times para todos os modos de jogo. isto quer dizer que era impossível realizar sequer um amistoso que envolvesse times brasileiros e europeus. Bola na trave, já que, ao mesmo tempo, era possível atualizar as edições da Libertadores e jogar o torneio continental de maneira clássica.
Você já deve estar se perguntando do porquê da emoção anunciada no início desse post, eu vos digo: o PES 2013 virá com uma liga brasileira e com os times licenciados. O anúncio oficial da KONAMI me fez agradecer aos céus, pois este será, sem dúvidas, o fim dos bomba patch da vida. 


Com a Liga Brasileira, esperamos que todos os times estejam desbloqueados para todos os modos de jogo, incluindo os onlines, para que a experiência futebolística proposta pelos programadores seja baseada na diversão e não apenas na fria e calculada perspectiva da realidade, afinal, se eu quisesse realidade, não jogava videogame. O jogo chega, a princípio, em 1 de novembro, com versão  brasileira, narrada por Silvio Luís e comentada por Mauro Beting e promete ser ainda melhor. Não sei se mais alguém aqui é ansioso, mas eu estou contando as horas.

*Otavio Meloni é diretor-presidente-fundador do Otavio's Club, clube fundado em 1992, que já teve versões de futebol de botão, bonecos, clube gulliver, Winning Eleven, e PES. Vencedor de inúmeras master leagues, o OC espera decansar com a chegada definitiva do Fluzão no PES2013.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Voltou?



Thiago Aresta*

Ele está de volta ao clube que costuma chamar de “casa”, clube que o revelou, formou, projetou, clube que, após ouvir inúmeras vezes o grito de “Bota pra vender!” da torcida, o envolveu numa troca pela chegada do grande Vampeta, mesmo o clube mal sabendo que, ainda que por vias tortuosas, estaria, dessa forma, selando o destino desse jogador. Do Flamengo à Inter de Milão, (fazendo gol logo na estreia, o da vitória, de falta, contra o Real Madri, no Santiago Bernabéu) depois, empréstimos a Parma e Fiorentina e a volta ao clube nerazurro. Esse foi o caminho que o moleque da Vila Cruzeiro percorreu até que recebesse a alcunha que carrega consigo até hoje. Esse moleque é o Adriano Leite Ribeiro, o “Didico”. Mas pode chamar de “Imperador” que ele também atende!
Ser chamado de “Imperador” dá a exata dimensão do que foi o Adriano em sua carreira internacional: um jogador forte, decisivo, que tinha a capacidade de resolver jogos com sua patada de canhota. Um jogador poderoso. E com grande poder, sabemos, vem grande responsabilidade. O que, convenhamos, não foi um forte do Adriano ao longo de sua carreira. O problema do Adriano, ao meu ver, é a falta de limites, o que pode se justificar até pela sua trajetória: num dia, ele é um garoto que está surgindo num grande clube, cercado de expectativa e, como vem de origem humilde, algumas vezes não tem nem o dinheiro para a passagem de ida e volta ao treino; no outro, ele acorda em Milão, numa cidade cosmopolita, um outro mundo, outra cultura e, com o “boom” do mercado, muito mais dinheiro. Uma ascensão meteórica que, sim, pode deslumbrar o mais centrado dos seres humanos. Aliado a isso, está o fato de que, pensem comigo, todo o dinheiro que um jogador de futebol faz no auge de sua carreira, ele não tem tempo de aproveitar da maneira que gostaria, dados os compromissos com o clube e sua condição de atleta.
Gostar da sua comunidade, frequentar o lugar onde foi criado só depõe a favor dele, pois, apesar de ter ganho o mundo, ele não renega suas origens, o lugar de onde veio, é autêntico, não dissimula seus gostos e hábitos; o que pode prejudicar é o que ele faz com toda essa liberdade que diz sentir quando está em sua comunidade, na companhia dos seus. Dizem que seu calcanhar de Aquiles é o álcool, que teria surgido como muleta em razão da solidão e da perda trágica de seu pai (não posso afirmar, nunca parei pra beber uma cerveja com o Impera, uma pena, pois além de conhecer um cara do qual sou fã, renderia ótimo papo que, óbvio, viraria mais um texto, ele fatalmente pagaria a conta). Se isso for um fato, concordo integralmente com a opinião do grande jornalista, escritor e rubro-negro Ruy Castro em entrevista ao programa Redação SporTV de 22-08-2012 (vocês podem ver aqui: http://goo.gl/Vk3DA). Não vou me atrever a resumir a fala do Ruy, pois se trata de um depoimento pessoal sincero, direto, chocante e que faz pensar, mas, o que fica dela é: quem tem uma condição crônica, uma doença, necessita de tratamento, ajuda.
Ajuda foi o que o Adriano mais teve ao longo de toda a sua carreira. Na própria Internazionale, dizem, era comum que o Adriano se referisse ao Massimo Moratti, presidente do clube italiano, como “pai”. A partir daí, começa a sequência interminável de “última chance da carreira” que o Imperador teria, primeiro com um empréstimo de seis meses ao São Paulo (2008), a volta à Inter, de onde se desligou após um “sumiço” e teve a sua primeira volta ao Flamengo, em 2009, quando, mesmo longe da condição física ideal, conduziu o rubro-negro ao hexacampeonato brasileiro naquele ano, jogando um só turno e, ainda assim, sendo artilheiro. No ano seguinte, a volta à Itália, para jogar na Roma: uma passagem de oito jogos e muitas lesões, que terminou com mais uma rescisão de contrato. Todos esperavam que sua redenção viesse no Corinthians, clube que se mostrou disposto a acolhê-lo, mesmo após a recusa do Flamengo, pois, na época, ele não se encaixava no “pojeto” do “pofexô” que treinava o clube carioca. Só que uma grave lesão no tendão de Aquiles atrapalhou todo o planejamento. Fez poucas partidas no Timão, fez um gol importante na campanha do título brasileiro de 2011, mas saiu de lá demitido, por justa causa, devido a 67 faltas em sessões de fisioterapia e treinos, segundo o clube paulista (o que acho um certo exagero, pois, quem falta a tantas sessões assim, ainda mais se tratando de uma lesão grave e numa pessoa tão grande e pesada como o Adriano, não conseguiria nem andar, mas não posso contestar os dados do clube).
O benefício do eterno perdão é raro e acontece para poucos. Um desses poucos é o Adriano, o “Imperador”: ele acaba de fechar contrato de produtividade com o Flamengo, após passar por nova cirurgia no tendão de Aquiles e iniciar a recuperação no clube. Muito positivo o Flamengo ter posto seu estafe e instalações à disposição do Adriano, mostra um pouco de compromisso do clube com seus ídolos, o que, convenhamos, não tem sido o forte dessa gestão. E o que esperar do Adriano? Bem, se ele ainda se considera um jogador de futebol, ele tem de agradecer ao Corinthians, que apostou nele quando nem o próprio Flamengo quis arriscar. E essa recusa do Flamengo parece ter doído no Imperador, que se mostra motivado e determinado a provar que pode, sim, dar a volta por cima e voltar a jogar futebol, se não em grande nível, pelo menos regularmente, num primeiro momento. O Adriano tem só trinta anos, meus amigos, seria muito triste para nós rubro-negros e pra quem gosta de futebol, no geral, ver um talento desses ser jogado pela janela, ser desperdiçado assim, a troco de nada. E ele próprio parece ter tomado consciência disso, pois é nítida a sua vontade de dar certo dessa vez. Não esperemos o Adriano de 2009, seria injusto, mas, se ele mostrar perseverança para chegar perto disso, já será um grande reforço. E convenhamos: Adriano “Imperador”, só com o nome já põe muita gente pra tremer e, com só uma perna, ainda bota muito centroavante dessa primeira divisão no bolso! Eu falo porque eu já vi, num Maracanã lotado, ele chamar a responsa, fazer três gols e virar um jogo praticamente perdido. Quem estava lá no dia 31-01-2010 sabe exatamente do que estou falando. Adriano é um jogador de cojones, coisa rara nos dias de hoje. E repito, reaças, no Flamengo ele joga, para desespero de vocês.
Agora, vamos falar de hipóteses, torcedor também gosta de sonhar: como o Adriano poderia se encaixar nesse Flamengo, que parece estar muito certinho e se acertando mais a cada jogo? A primeira opção seria na dele mesmo, centroavante, centralizado, com o Love passando a jogar pelos lados do campo, o que não seria difícil, pois o Love, mesmo sendo o “nove” do time de hoje, sai bastante para buscar o jogo; e entrosamento entre os dois não é problema, o “Império do Amor” já deu certo. No entanto, permitam-me um devaneio: o Adriano usa a “10”, correto? Então, ele poderia ser opção para resolver o problema do Flamengo por ali também. Não sei se vocês lembram, mas, no primeiro ano de José Mourinho na Inter de Milão, o time, em algumas ocasiões, foi armado em função do Imperador. Explico: Adriano atuou como um autêntico enganche, centralizado, dando passes para o Ibrahimovic, centroavante, e com Zanetti (monstro), Mancini, Stankovic e Maicon fazendo as jogadas pelos lados do campo. Além disso, a força física do Imperador permitia a ele girar sobre a marcação adversária e utilizar sua grande arma, o potente chute com a perna esquerda, de média e longa distância. Bem só um delírio que depende e muito da condição física do Adriano. Mas fica o alerta: ele não é só um atacante trombador, tem muito mais recursos que isso.
E a volta do Adriano, apesar de ser considerada por muitos como “mais do mesmo”, é boa para todo mundo: para ele próprio, que tem mais uma chance de mostrar que pode voltar a ser o Imperador; para o Flamengo, que ganha com a volta de um ícone; para o futebol, que, apesar dos pesares, ainda reverencia sua figura como a de um grande talento; e, por que não, dos nossos adversários que, além de terem mais um motivo para ir ao estádio, podem, finalmente, desengavetar todas as piadas prontas e montagens malfeitas que já estavam mofando, para o desespero de nossos humoristas de plantão, que perderiam sua verve de comediante caso o Imperador não voltasse... Todos sabemos que esse retorno não depende exclusivamente dele, apoio é necessário, seja da família ou da própria instituição Flamengo, mas ele tem de fazer sacrifícios para chegar lá: mudar hábitos, ter horários e fechar a boca, tanto para o que come e bebe, quanto para o que fala. No sapatinho, Didico... O que fica é a torcida pela recuperação não só do Imperador, o jogador de futebol, mas do Adriano Leite Ribeiro, o homem, filho, pai, ídolo e que é tido como exemplo por muitos garotos que sonham com um futuro semelhante.
E, Didico, se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação Rubro-Negra, diga ao povo que, finalmente, está de volta! E o faça como você sabe e está acostumado: adversários tremendo, redes balançando e a magnética explodindo!

*Thiago Aresta fez curso por correspondência de endocrinologia e sempre assina seus texto com SNR, que este editor sempre esquece de inserir.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Top dez Brasileirão, primeiro turno






      Otavio Meloni*


O primeiro turno do Brasileirão está por um pentelhésimo de chegar ao fim, já que ainda temos os dois inadimplentes Flamengo e Galo devendo um jogo da primeira volta da Cancha. É claro que o primeiro turno não tem importância se pensarmos como título (já bem dizia Garrincha que campeonato de um turno só não tem graça), mas os indícios do Campeonato já estão na mesa. Alguns são muito claros, outros ainda obscuros e capazes de levantar as maiores paixões e os piores desejos de zoação. Neste post, organizei dez itens que, para mim, ficam como saldo certo da primeira ronda deste certame, vejam se concordam.


1. Os candidatos ao título: Pela primeira vez, nos últimos três anos, creio que iremos chegar a dez jogos do final com apenas dois times brigando pela taça. Na minha opinião Galo e Flu irão caçar ponto a ponto o troféu do Brasileirão. Talvez o Grêmio se aproxime, mas creio que fica entre os dois mesmo. Se dobrarmos os pontos que ambos conquistaram no primeiro turno teríamos 86 a 84, respectivamente, alguém duvida?

2. O Figueira pode ir arrumando as malas que a segundona está batendo na porta, nem falo do Atlético de Góias que isso é Bullying...

3. O artilheiro do Brasileirão será Wagner Love, por um simples motivo: Fred ainda vai arrumar uma contusão que o deixará fora por uns cinco jogos.

4. O Santos vai chegar nas vagas da libertadores, portanto Vasco, Botafogo, Inter e São Paulo que se preparem que a briga pela última vaga vai ser feia.

5. Seria injusto não dar o prêmio de revelação do campeonato, até então, para Bernard do Galo mineiro. Joga muito o muleque, tomara que não tenha complexo de Lenny, alguém lembra dele?

6. Temos aue ressaltar o bom Ronaldinho Gaúcho que está acabando com o torneio pelo lado do Galo. Cerebral, em outra posição, Cuca armou o esquema pensando nele e os outros dez que corram e se fodam. Assim funciona, na seleção também seu Mano, abre o olho!!!

7. A contratação mais pífia do torneio até agora vai para Diego Forlan, que segundo fontes seguras não anda fazendo NADA em POA. Já tem gente com saudades do Andrezinho por lá!

8. A arbitragem do campeonato segue as péssimas referências anteriores, com a diferença que dessa vez roubaram o Corinthians... aí já viu né, ao contrário do ditado, nesse caso, "ladrão que rouba ladrão..." tem que pedir perdão, levar suspensão e ver seu chefe receber demissão... Roubaram o Galo ontem, vai demitir de novo Marin??? Acho que não né...

9. A incógnita do torneio, até agora, é o Botafogo. Capaz de vitórias fantásticas, com futebol bonito e bem jogado e na sequência ser oleado pelo lanterna dentro de sua casa... o que será do Fogão???

10. Por fim, essa talvez seja a maior certeza de todas: não dá pra falar em nível europeu com esses gramados né... é brincadeira!!! (apud: CANHOTA DE OURO, Gérson)


* Otavio Meloni é consultor para rankings e paradas do Grupo Tiririca Paschoalito Trump's, além de compôr banca de diversos concursos como "O maior brasileiro de todos os tempos".

Sem Sal



Thiago Aresta*



Dois fins de semana seguidos de clássicos. Assim, esse meu combalido coraçãozinho rubro-negro não aguenta... Se bem que, contra o Botafogo, a tensão nem é tanta. Tenho até uma certa simpatia pelo Botafogo, talvez porque grande parte da minha família materna torça para o clube da estrela solitária ou porque eu só conheça botafoguense gente boa. Na verdade, acho até bonitinho quando o Foguim ganha alguma coisa. A rivalidade existe pelos confrontos regionais, mas, apesar dessas decisões estaduais recentes entre Flamengo e Botafogo, eu não enxergo o alvinegro como um adversário tão malquisto assim. Na verdade, esse sentimento parte muito mais de General Severiano em direção à Gávea, pode reparar: os botafoguenses às vezes enchem a boca para chamar a nós, flamenguistas, de mulambos, mas a grande verdade é que eles são tão poucos que a língua portuguesa não encontrou necessidade de fabricar um substantivo coletivo que os generalizasse. Aí, eles vêm com o argumento batido de “qualidade, não quantidade”, mas dá pra perceber que acusaram o golpe. Em suma, o Botafogo, para mim, é um América que passou pelo filtro Inkwell do Instagram, old school total.
O jogo de hoje, no Engenhão, tinha tudo para ser um grande jogo. O Flamengo vindo embalado, seja pela vitória no último clássico, o renascimento do Vágner Love, pelo fato de o time começar a encaixar, até mesmo pela volta do Imperador (queiram vocês ou não, ter o Adriano de volta já fez bem ao grupo. E aos reaças: no Flamengo, ele joga.); o Botafogo vindo de uma boa vitória contra o Palmeiras, apesar da não classificação na Sulamericana, Seedorf e Lodeiro em campo e um técnico que precisa se reencontrar, reafirmar-se, além do fato de que uma vitória colocaria quaisquer dos times na disputa por uma vaga no G4. E era um clássico, o que fala por si só. Mas não, não foi um jogão. Nem um joguinho. Foi um jogo normal... Sem sal... Sem gosto. Insípido, insosso e inodoro, feito água...
Hoje, um paradoxo parecia pairar sobre as duas equipes, no Engenhão: o Botafogo tentava criar com o seu meio-campo, tendo em Seedorf o seu jogador mais perigoso, mas, sem um centroavante de ofício, com o Elkeson improvisado na função, não conseguia fazer com que suas investidas levassem perigo à meta rubro-negra; já o Flamengo, com um legítimo matador no comando de seu ataque, o Vágner Love, não fazia com que a bola chegasse até ele em condições de finalização, apesar da boa partida do Negueba (!) e do bom primeiro tempo do Thomás. Eu ainda tenho algumas restrições em relação ao Thomás, mas hoje, especificamente, não o teria trocado pelo Adryan... É justo elogiar mais uma atuação segura do Welinton(!) que, fora um recuo mandraque para o Gonzáles, foi impecável na zaga, o Ramón, calando minha boca, acertou a lateral esquerda. O Cáceres, mais uma vez, muito bem no combate e no apoio, assim como o Luiz Antônio. Já o Ibson... ZZZZZZZZZZZZZ...
O que fica de positivo dessa partida é constatar que o esquema tático implantado pelo Dorival Júnior vem dando certo, está amadurecendo, o que se reflete em mais uma partida sem levar gols, com uma defesa mais bem postada e um meio-campo mais brigador, que marca melhor, está mais bem distribuído em campo e que, apesar da falta de um “camisa 10”, cria um pouco mais, dá velocidade ao jogo e entrega a nós flamenguistas um Flamengo que gostamos de ver: sem medo de atacar, partir pra cima de qualquer adversário, com responsabilidade na defesa, é claro. O Manto Sagrado rubro-negro foi forjado no ferro e fogo do futebol ofensivo, não sabe jogar só se defendendo. Tem que dominar as ações, dar as cartas, ainda que o resultado não seja o esperado, a vitória, claro! E, apesar de o Botafogo ter ido bem e do Flamengo ter ido um pouco melhor, a frustração veio como a bola do Liédson no travessão, no fim do jogo: um baque.
E assim se vão doze anos e dezoito partidas de Flamengo invicto contra o Botafogo em campeonatos brasileiros.
Ainda que sem sal...

*Thiago Aresta, apesar de hipertenso, gosta muito de sal, vide sua habitual mania de comer bacalhau semi-dessalgado, é claro!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Errar é o Mano, apud: LOCO, Kibe.

(Quem não quis matar o Parreira em 94, mesmo no Elifoot???)


Otavio Meloni*


Amigos, montar um time de futebol profissional de fato não é algo que se faça da noite para o dia, muito menos sem planejamento e investimento. Todos os que já se aventuraram na Master League do jogo Pro Evolution Soccer/ Winning Eleven desde os tempos do Playstation I sabem disso melhor do que ninguém. É um fato também que organizar uma equipe taticamente, depois de dispor das peças que se julga necessário para sua boa composição, também não é tarefa simples. Logo, para se fazer uma equipe competitiva (nem vou entrar no mérito de uma equipe campeã) é preciso investimento financeiro, contratações que sejam funcionais para o time, um esquema tático de acordo com o material humano que se tem em mãos e planejamento prévio de elenco em sua composição geral.
Essa fórmula parece simples, fácil de executar e muito comum dentro dos simuladores de futebol para videogames e pc’s, porém quando trouxe o assunto à tona pensei em futebol de verdade, mais especificamente na Seleção Brasileira. Pensemos: dirigir qualquer seleção corta uma das mais importantes etapas citadas anteriormente, já que você não precisa contratar ninguém. Todos os praticantes de futebol de um determinado país sonham jogar em suas respectivas seleções, disputarem copas internacionais e serem conhecidos mundialmente. Daí você pensa: “Isso é óbvio!”. Talvez seja em países que não têm uma profusão de grandes jogadores a cada ano. Nós, que acompanhamos futebol, sabemos que grande parte das seleções do mundo tem no máximo uns trinta jogadores que podem jogar num nível razoável internacionalmente. São raros os técnicos nacionais que podem bater no peito e dizer que tem muitos jogadores de qualidade pra uma determinada posição, ou mesmo que tem jogadores em demasia e precisa realizar escolhas difíceis. Isso se nota quando assistimos os campeonatos europeus de clubes e vemos estrelas de algumas seleções mundiais no banco de reserva ou mesmo sem ser relacionados para os jogos e nem por isso deixam de figurar entre convocados e titulares em suas seleções. Um exemplo claro disso seria dizer que se o Kaká não fosse brasileiro certamente estaria entre os convocados até hoje e muito provavelmente seria titular do time. Em quantas seleções do mundo um jogador do nível do Kaká não seria mais convocado por ser reserva do Real Madrid? Me vem a cabeça só Brasil e talvez, reitero o talvez, Argentina. Chegamos então ao assunto chave deste artigo: por que é tão difícil formar um time competitivo se o Brasil tem tantos jogadores que podem jogar bem em nível internacional?
Felipão, quando deixou o cargo depois de 2002, alegou que faltava liberdade para convocar, segundo a imprensa. Mas ele teve alguma liberdade durante as eliminatórias e levou jogadores que, incontestavelmente, estavam em grande forma naquela época, como Luizão, Edilson, Vampeta, Gilberto Silva, o goleiro Marcos (que nunca tinha sido convocado), etc. Acho que falta isso ao Brasil hoje. Mano Menezes parece já ter uma ideia do time que ele quer para a Copa de 2014, seria uma base de Thiago Silva, Daniel Alves, Marcelo, Oscar, Neymar e Leandro Damião. Acho que boa parte dos brasileiros concorda com esses nomes, mas é notório que são apenas seis jogadores, faltam 17!!!!! Isso na minha cabeça, pois acho que na do Mano faltam uns três ou quatro. Em universo futebolístico tão profícuo como o brasileiro é possível ignorar todos os jogadores que vão surgindo ou se afirmando ao longo dos campeonatos em virtude de uma equipe fechada? Em qualquer país do mundo talvez sim, mas no Brasil é impossível seu Mano! Vamos direcionar o pensamento: dos quatro melhores times do campeonato brasileiro até agora apenas um jogador foi convocado para o último jogo da seleção. Trata-se de Dedé, zagueiro do Vasco (ou do Romário, a justiça está decidindo). Então vamos lá, nesses quatro times temos dois ótimos goleiros Diego Cavalieri (Flu) e Victor (Galo); dois zagueiros excelentes Dedé (Vasco) e Réver (Galo), além de Gum (flu) que eu daria uma chance; os meias Thiago Neves (Flu), Ronaldinho Gaúcho e Bernard (Galo) e o Juninho (Vasco); além dos atacantes Fred e Nem (Flu) e Kleber (Grêmio). Rapidamente, só entre os integrantes do chamado G4, pensei em todos esses nomes que, pelo que estão jogando no Brasileirão, mereceriam estar presentes nas convocações da Seleção. Pensando de forma mais abrangente, ainda temos o Jefferson (gol – Bota), o Henrique (zagueiro/volante – Porco), o Renato (vol – Bota), o Ganso (meia –Santos/sem clube), o Wagner Love (ata –Fla), o injustiçado Lucas (meia ata- Sampa), o Luís Fabiano (ata – Sampa) e por aí vai. Será tão difícil olhar esses jogadores no Brasil? A CBF enche o peito pra dizer que o Brasileirão hoje é o campeonato mais disputado do mundo e isso não serve à Seleção Brasileira por quê? Todas as grandes equipes europeias têm dezenas de olheiros espalhados pelo país e o Mano só convoca na Europa e no Corinthians? Não dá!
Faltam pouco menos de dois anos para a Copa de 2014, menos de um para a Copa das Confederações (que só entramos por ser país sede) e tenho quase certeza de que ser for o Mano até lá, ainda teremos que aturar muitos desses “estrangeiros” que só servem para enriquecer empresários (o do próprio Mano, inclusive) e irritar o torcedor... Acho que podíamos ter um reality show que escolhesse o técnico da seleção brasileira. Funcionaria assim: reuniríamos 12 técnicos mais gabaritados em um CT e durante dois meses de competição eles se enfrentariam em desafios de estratégia tática, planejamento, convocações e jogos contra. Para que não houvesse manipulação de resultados ou fã clubes insuportáveis, os treinadores seriam representados por pessoas comuns e teriam suas opiniões expostas por eles. No começo do programa, todos divulgariam seus 22 convocados iniciais e toda semana teriam como desafio observar alguns jogadores escolhidos pelo público previamente e revelariam se modificariam algo na convocação inicial. Assim funcionaria toda semana e o público poderia ver as escolhas e teimosias dos candidatos, além de observar como eles funcionariam sem a proximidade com empresários, dirigentes e os próprios jogadores.O público decidiria o vencedor após observar as intenções e rumos que cada um daria à Seleção... Como não sou o Boninho, deixo a ideia aí CBF. Vou voltar pra minha Master League, pois naquele terreno dá pra jogar com uma seleção que preste, basta convocar quem de direito!

*Otavio Meloni escreveu este texto logo depois do almoço, portanto perdoem qualquer sinal de má digestão nestas linhas, e acha o Cavalieri o melhor goleiro do Brasil, hoje, na Europa (apud: NETO, o Craque).

domingo, 19 de agosto de 2012

Amor é clássico!




Thiago Aresta*

É sempre assim. A noite anterior é mal dormida, as horas antecedentes se arrastam, o planeta parece atrasar seus movimentos de rotação e translação de propósito! Uma tensão gostosa de sentir, essa tensão pré-clássico, que toma conta do amante à espera da coisa amada! Seja no estádio, num bar, com os amigos, até mesmo sozinho, em casa, domingo de futebol é assim, domingo de clássico é assim... E comigo, óbvio, não é diferente. Chega a Copa de 2014, a Olimpíada de 2016, a volta de Dom Sebastião, o fim das profecias de fim de mundo, a hora de um tradicional time carioca pagar a série B, mas não chega a hora do jogo...
Também pudera, hoje é dia de Flamengo! Flamengo x Vasco, o Clássico dos Milhões. Uma das rivalidades mais acirradas do futebol mundial: é impossível manter a tranquilidade. Confesso a vocês que, quando vou ao estádio, junto com o Bonde do C3 (abraços: Pajé, Vitinho, Pablo, Daniela, Thales, Otavio), o nervosismo é menor. Mas, dessa vez, vai ser em casa mesmo, HAJA CORAÇÃO, AMIGOS.
E o momento não poderia ser melhor para fazer esse embate ferver ainda mais: o Vasco briga no G4, tem um elenco competitivo, um bom técnico e procura se reabilitar após o empate em casa com o Coritiba e retomar a caça ao galo paraguaio. Já o Flamengo procura se reencontrar: passa pela rehab pós-Joel, agora é comandado pelo excelente Dorival Júnior, que procura dar uma identidade, um esquema tático a esse time. Uma cara. Cara de Flamengo. Se, em condições normais, vitória em clássico já é importante, agora ponha esses ingredientes na balança e faça as contas: o que era importante aumentou exponencialmente e passou a ser fundamental.
Sobre o Flamengo de Dorival, taticamente falando, eu não consigo enxergar o esquema atual como um 4-3-3. Para que essa formação tática se realize plenamente, essa trinca de meio-campo tem de ser formada por jogadores  fortes tanto na marcação quanto no apoio (os chamados meias box-to-box, que vão da intermediária de defesa à de ataque com a mesma desenvoltura); os atacantes abertos pelas pontas jogam com total liberdade ofensiva, sem muitas obrigações defensivas, o atacante centralizado volta pouco para buscar o jogo e concentra-se em jogar no último terço do campo. Eu vejo o Flamengo atual num 4-5-1, com o Cáceres exercendo a função de primeiro volante, Renato e Luiz Antônio mais à frente e Thomás e Negueba jogando pelos flancos, tendo que compor o meio-campo, seja para defender ou para apoiar os laterais e municiar o Love, que tá lá pra meter gol e fazer o amor reinar pelo lado rubro-negro da força (não vou nem falar da zaga rubro-negra, isso merece um texto exclusivo, hahaha). No fundo, no fundo, isso é uma questão de visão, é uma opinião que tenho e achei legal trazer à mesa para conversarmos.
Rolou a bola, vamos ao jogo! Como em todo clássico, o jogo começou muito estudado, ambas as equipes com muita cautela. O que deu uma maior dinâmica foram as jogadas pelos flancos do campo de ambos os times, com destaque para Léo Moura, pelo Flamengo e Eder Luís, pelo Vasco. Numa das descidas do Eder Luís, ele reclamou de pênalti, mas, cá entre nós, ele chutou o chão, segue o jogo! Fora isso, nenhuma grande jogada ou chance real de gol para ambos os lados. No duelo dos artilheiros, nem Alecgol nem Love, apagados até então. Aos 30 minutos, após cobrança de falta de Juninho, duas defesas do Felipe (numa delas, rebateu a bola, pra variar, para o meio da área) e o alívio da zaga evitaram o gol cruzmaltino. Logo após, belo lançamento do Felipe vascaíno para o Wendel, que arrematou para linda defesa do arqueiro rubro-negro. Acorda, Mengão! Aos 37 min, redenção: Ramon deu bela arrancada e bateu rasteiro, de canhota; Prass (a “muralha da colina”) bateu roupa e a bola sobrou para ele, VÁGNER LOVE, que não perdoa! Mengão um a zero! Só Love no Engenhão, VÁGNER LOVE faz a festa da Nação! O gol saiu quando o Vasco tinha uma ligeira superioridade, mas o que vale é bola na rede, assim o Mengão foi para o intervalo com vantagem e com o moral lá em cima! O time não fez um primeiro tempo brilhante, mas já mostrou evolução na compactação dos setores desejada pelo Dorival. Esse Flamengo está começando a ter uma cara!
O Vasco voltou para o segundo tempo com o Carlos Alberto no lugar do Felipe. Cazalbé joga muito, mas é maluco: logo em sua primeira aparição, falta no Cáceres e cartão amarelo recebido. Não muda nunca. O Flamengo voltou sem alterações e com a minha, a sua e a nossa torcida para que a postura do time não mudasse e o Mengo conseguisse ampliar a vantagem no marcador. O Vasco, naturalmente, tentou exercer pressão, teve algumas chances, mas Felipe garantiu a integridade da meta rubro-negra. Aos 37 minutos, o impossível acontece: o menino Adryan passou como quis pelo Juninho, avançou pela esquerda e rolou para o meio da área, com açúcar, amor, afeto e disse ao Léo Moura: “Faz, vovô!”. Eram ele, a bola e o gol sem goleiro... E o Léo não fez, errou a bola, tentou se recuperar, mas a emenda saiu pior do que o soneto... INACREDITÁVEL! Àquela altura, era o gol pra ratificar a vitória. Mas é isso, né, o que vem fácil para o Flamengo? Ah, Léo, ah, Léo... Jogo que segue. É de se frisar a queda vertiginosa do Léo Moura no segundo tempo. A idade parece estar pesando, o corpo já não aguenta o ritmo intenso de noventa minutos de futebol. Uma pena isso acontecer com nosso capitão às vésperas de alcançar a marca histórica de quatrocentos jogos envergando o Manto Sagrado. O jogo seguiu morno, mas, ao fim de tudo, a vitória veio! Ó, meu Mengão, como eu gosto de você!
Não foi uma atuação brilhante, é claro, mas ganhar clássico é sempre bom, dá ânimo para a longa caminhada que o Flamengo tem que trilhar no segundo turno do Brasileirão. E ganhar do Vasco, todo rubro-negro sabe, é clássico! Rivalidade à parte, não foi uma vitória qualquer: ganhamos de um Vasco postulante à vaga na Libertadores, no mínimo, que tem um elenco competitivo e vai continuar brigando ali em cima. E é ótimo ver que o Flamengo hoje evolui enquanto time, grupo e, a partir disso, é que aparecem as atuações individuais. O Felipe pegou muito, a defesa segurou o rojão, o meio-campo esteve bem, compacto e dando velocidade ao jogo, e o Love... Só Love! Somem-se a isso os garotos que estão subindo, têm qualidade e, lançados na hora certa, com a medida certa, passarão de promessas à realidade e ainda vão nos dar muitas alegrias. É um alento ver que o Flamengo está (re)construindo uma identidade. Milagre? Claro que não! TREINO e DISCIPLINA, amigos, isso é nítido. Ponto para o Dorival, que está provando ser a escolha acertada para colocar esse time no prumo e fazê-lo crescer e pensar em voos mais altos.  Não precisa ser brilhante, basta ser FLAMENGO.
SRN

* Thiago Aresta aprecia Violoncelo, faz curso de Feng Shui em uma ong na Lagoa e A-DO-RA ganhar do Vasco! (que conste nos autos que só a última informação procede)

sábado, 18 de agosto de 2012

Berilaudaumdaumberilaudaumdaum berilaudaumdam



Otavio Meloni*


Depois de 90 minutos de jogo, muitos gritos de inútil pra Carlinhos e mágicas defesas do incauto arqueiro Magrão, o Fluminense saiu vitorioso do embate contra o Sport Recife com um gol suado de Samuel Rosa, não o vocalista do Skank, mas um centro-avante que mete gol e é isso que importa. Não vou ficar aqui enumerando motivos para o mal desempenho do escrete das laranjeiras, como os desfalques em massa e a retranca do Sport, já que o que importa são os três pontos que pusemos no bolso e na conta do Galo mineiro, que vai pra pressão amanhã contra o estoico Botafogo - já dizia bem Ivan. 
O jogo foi morno, poucas chances de gols pros dois lados. Wagner perdeu gol feito logo no início, depois Magrão praticou milagre, Thiago Neves bateu falta perigosa, mas nada que valesse a pipoca sem sal que ingeríamos sem muita vontade de fazê-lo.  No intervalo Abelão chamou ele, o craque das baladas cariocas Diguinho e fez uma mexida que anulou a melhor saída de bola do Flu, que era Jean pelo meio. Com o volante de lateral, sofremos mais uns bons minutos até que na jogada clássica do comandante tricolor (bola parada na área) Wagner testou pro chão e Magrão salvou com o pé... Parecia zero a zero mesmo, mas os dois meninos do tricolor entraram (Higor e Michael) e melhoraram o jogo. Um lance no meio do campo ocasionou a expulsão de um dos jogadores do Sport que não gravei o nome e logo na sequência, escorando cruzamento do letárgico Carlinhos, Samuel Rosa deu um "berinlaudaudaum" na bola e empurrou a bola pra rede. Um a zero Fluzão, 39 pontos, praticamente sem chances de rebaixamento (essa é sempre a primeira meta de qualquer time no Brasileirão) e rumo a ponta da tabela.
Vale ressaltar a boa companhia para assistir o jogo, as boas instalações do Raulino de Oliveira e o sempre clássico biscoito Globo que povoou os lances em que Carlinhos se arrastava em campo, fingindo ainda querer jogar no Flu. Na boa, o time tá com cara de Abelão e isso me agrada demais!!!

* Otavio Meloni é tricolor, finge que estuda, faz que trabalha, mas está se profissionalizando em jogos simuladores de futebol como PES 2012 e FIFA12, às vezes totó.

Ouro de Tolo?



Thiago Aresta*


Somos o país do futebol. São daqui alguns dos clubes de futebol mais conhecidos e vitoriosos do mundo. São nossos alguns dos maiores jogadores de futebol que já surgiram na face da terra (só não se sabe de onde veio o Edson, um extraterrestre). Craques? Coisa nossa! Continuamos produzindo aos borbotões, seja no terrão, na várzea ou na grama esmeralda dos mais modernos centros de treinamento. Deve ser a água... Dribles? Nós os inventamos e reinventamos a cada quicar da bola. Naturalmente, a nossa seleção é uma das temidas e respeitadas. Só de Copas do Mundo, cinco canecos na nossa conta. Por cinco vezes dominamos soberanos esse mundo e, nas vezes em que, porventura, perdemos, o “vencer o Brasil” acabou tendo mais peso que o “ganhar a Copa”, seja no Maracanã ou no Parque dos Príncipes. Nossa camisa amarela remete às riquezas e dourada é nossa cor, ouro é nosso metal, nosso orgulho futebolístico é inabalável.
A cada quatro anos, a história teima em questionar e desmentir esses fatos. A cada quatro anos, uma cidade do mundo vira o Eldorado do futebol brasileiro e tudo isso se desconstrói, numa competição em especial: os jogos olímpicos... Não somos uma potência olímpica, é verdade, o que fica bem claro num trocadilho de fácil entendimento: “Bronzil”. E no futebol, a coisa não é muito diferente. A tradição olímpica do futebol tupiniquim é de metais bem menos nobres: são cinco medalhas conquistadas, sendo duas de bronze, em 1996 (Atlanta, EUA) e 2008 (Pequim, China), às quais se somam três medalhas de prata, em 1984 (Los Angeles, EUA), 1988 (Seul, Coréia do Sul) e 2012 (Londres, Inglaterra). Para um esporte coletivo, cinco medalhas conquistadas seria um grande feito, uma vez que, na lógica olímpica, sendo o importante participar, competir, conquistar uma medalha é uma grande marca, independente de sua cor.
É líquido e certo que a grande expectativa criada em torno da seleção olímpica de futebol, que advém de alguns bons jogadores que temos hoje, era a de que, enfim, esse tal ouro olímpico fosse conquistado e o Brasil pudesse anotar em seus registros “o único título que falta” em sua história. As condições eram as melhores possíveis: grupo fácil, chaveamento molezinha, Argentina fora, Espanha e Grã-Bretanha eliminadas... O que culminou numa final contra o México, que, aliás, é algoz histórico do Brasil mesmo com seleções principais e parece ter se  voltado para a base, com dois títulos mundiais sub-17 conquistados recentemente, em 2005 e 2011. Expectativa em nível máximo provoca frustração em intensidade proporcional, em caso de derrota. A euforia, que leva à debilidade. Debilidade esta que acaba por fazer desconsiderar que a prata, apesar de vir com um revés, ainda é uma conquista. Uma grande conquista, por sinal.
Questiona-se a geração que esteve em Londres, mas às vezes se esquece que ESSA é a base da seleção brasileira que terá a missão de disputar, em solo nacional, a próxima Copa do Mundo. E, no meio de tantos questionamentos, é bem comum observar os dois pesos e duas medidas que são usados para falar de futebol e de outros esportes. Foi muito comum ver o segundo lugar do Brasil no futebol ser associado a “amargura”, “vexame” e “vergonha”. É justo? É justo que uma seleção olímpica entre em capo em busca de vitórias, mas carregando nos ombros o peso de tantas gerações que também lá foram e trouxeram “só” prata ou bronze? Outra coisa comum foi utilizar a prata conquistada pela seleção do Bernardinho ou o ouro das meninas do Zé Roberto para contestar, ou até “dar lição de moral” nos manos pela prata conquistada. Isso me parece uma falácia, pelos seguintes aspectos: primeiro, foge totalmente da lógica olímpica, na qual medalha é pra se comemorar e não se lamentar, é comparar bananas com laranjas (e as duas nascem bem aqui no Brasil); segundo, é fazer uma análise simplista e cômoda da coisa toda, além de desmerecer e apequenar todas as três, repito, grandes conquistas do desporto nacional; terceiro e mais importante, essa comparação favorece amplamente o futebol, pois ela tira o foco daquilo que deve ser a nossa maior preocupação: o planejamento. Existe um projeto para o futebol olímpico brasileiro? Existe um projeto para o futebol brasileiro, de maneira geral?
É consenso que a seleção, pelos nomes que lá estavam, não apresentou o futebol que todos gostaríamos de ver. Jogos enfadonhos, resolvidos por lampejos individuais, seja do Damião, do Oscar, ou até mesmo do tão contestado Rafael. Thiago Silva fez jus ao apelido: um monstro na zaga, mas sofrendo com a inexperiência de Juan, seu companheiro de zaga e com a falta de qualidade do volante responsável pelo primeiro combate, o Sandro, o que também sobrecarregou o Rômulo, excelente no apoio e competente na marcação. E o Neymar? Enquanto estava na dele, aberto pela esquerda, revezando com o Marcelo, deu seu recado. Mas vocês repararam que, após a barração do Hulk e a entrada do Alex Sandro no meio-campo, as subidas quase letais do defesa esquerdo desapareceram e o Neymar passou a recuar mais, buscando a bola e armando o jogo? E continuou dando o seu recado, dessa vez jogando para o time. Dúvidas são muitas. E o Lucas, banco? E o Ganso, não poderia jogar junto do Oscar?
Quem poderia dirimir tais dúvidas seria o professor. Mano Menezes, técnico da seleção principal. Mas será que era ele quem deveria estar ali, no banco da seleção olímpica? Quem comandava a base da CBF, além da seleção sub-20 era o Ney Franco, hoje técnico do São Paulo (que, aliás, não vive bom momento). E foi o Ney quem comandou a seleção sub-20 no título sul-americano da categoria, em 2011, o que rendeu vagas para o Campeonato Mundial e as Olimpíadas seguintes, Londres-2012. Não seria mais lógico manter o técnico que conquistou a vaga e conhecia essa base para a disputa dos Jogos? Ou será que é mesmo necessário que o técnico da seleção principal assuma o barco e se exponha, como se expôs, a uma pressão e um desgaste desnecessários, que podem até prejudicar a trajetória da seleção, que se prepara para, em 2014 e 2016 disputar competições importantes em gramados brasileiros? Isso é para se pensar, só um questionamento, fim de contas, quem decidia era o Teixeira (Dick Vigarista), que passou o bastão para o Marín (Muttley). Quem somos nós para questionar o que se passa com a seleção “do povo”...
Mesmo não podendo, nós o fazemos, sim. Questionamos, sim, pois é nosso dever ampliarmos nossa visão e sermos críticos por natureza. Óbvio que esse texto não dá conta de muitos pontos possíveis, o principal deles, o investimento em formação de atletas. Isso é assunto para muitas outras oportunidades que, certamente, virão. A preocupação aqui é discutir futebol, sentar à mesa com os amigos, abrir uma cerveja e deixar a alienação de fora. Ópio do povo? Não, futebol é combustível do povo! Futebol mexe com paixões, economias, rivalidades. E é nosso! Afinal de contas, não somos o “país do futebol”? Claro que somos! Do futebol, do vôlei, do judô, da vela, da pipa e do pião. Não podemos deixar que tentem nos tirar o que é nosso. E o futebol é nosso. Não somos tolos em busca de ouro em tudo o que brilha. Não nos conformamos com um representante que demonstra sua afeição por medalhas da pior maneira possível... Nosso ouro é conquistado, assim como o jogo é jogado. E esse jogo, amigos, só acaba quando termina...

Thiago Aresta é apaixonado por futebol, por seu Flamengo e pela sensatez. escreve neste blog sempre que dá na telha, mas vamos dar limites ao nórdico rubro-negro do Gragoatá.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Taí o que você queria...


Ademir da Guia - João Cabral de Melo Neto

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o

Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando

o mais irrequieto adversário