segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sem Sal




Thiago Aresta*



Dois fins de semana seguidos de clássicos. Assim, esse meu combalido coraçãozinho rubro-negro não aguenta... Se bem que, contra o Botafogo, a tensão nem é tanta. Tenho até uma certa simpatia pelo Botafogo, talvez porque grande parte da minha família materna torça para o clube da estrela solitária ou porque eu só conheça botafoguense gente boa. Na verdade, acho até bonitinho quando o Foguim ganha alguma coisa. A rivalidade existe pelos confrontos regionais, mas, apesar dessas decisões estaduais recentes entre Flamengo e Botafogo, eu não enxergo o alvinegro como um adversário tão malquisto assim. Na verdade, esse sentimento parte muito mais de General Severiano em direção à Gávea, pode reparar: os botafoguenses às vezes enchem a boca para chamar a nós, flamenguistas, de mulambos, mas a grande verdade é que eles são tão poucos que a língua portuguesa não encontrou necessidade de fabricar um substantivo coletivo que os generalizasse. Aí, eles vêm com o argumento batido de “qualidade, não quantidade”, mas dá pra perceber que acusaram o golpe. Em suma, o Botafogo, para mim, é um América que passou pelo filtro Inkwell do Instagram, old school total.
O jogo de hoje, no Engenhão, tinha tudo para ser um grande jogo. O Flamengo vindo embalado, seja pela vitória no último clássico, o renascimento do Vágner Love, pelo fato de o time começar a encaixar, até mesmo pela volta do Imperador (queiram vocês ou não, ter o Adriano de volta já fez bem ao grupo. E aos reaças: no Flamengo, ele joga.); o Botafogo vindo de uma boa vitória contra o Palmeiras, apesar da não classificação na Sulamericana, Seedorf e Lodeiro em campo e um técnico que precisa se reencontrar, reafirmar-se, além do fato de que uma vitória colocaria quaisquer dos times na disputa por uma vaga no G4. E era um clássico, o que fala por si só. Mas não, não foi um jogão. Nem um joguinho. Foi um jogo normal... Sem sal... Sem gosto. Insípido, insosso e inodoro, feito água...
Hoje, um paradoxo parecia pairar sobre as duas equipes, no Engenhão: o Botafogo tentava criar com o seu meio-campo, tendo em Seedorf o seu jogador mais perigoso, mas, sem um centroavante de ofício, com o Elkeson improvisado na função, não conseguia fazer com que suas investidas levassem perigo à meta rubro-negra; já o Flamengo, com um legítimo matador no comando de seu ataque, o Vágner Love, não fazia com que a bola chegasse até ele em condições de finalização, apesar da boa partida do Negueba (!) e do bom primeiro tempo do Thomás. Eu ainda tenho algumas restrições em relação ao Thomás, mas hoje, especificamente, não o teria trocado pelo Adryan... É justo elogiar mais uma atuação segura do Welinton(!) que, fora um recuo mandraque para o Gonzáles, foi impecável na zaga, o Ramón, calando minha boca, acertou a lateral esquerda. O Cáceres, mais uma vez, muito bem no combate e no apoio, assim como o Luiz Antônio. Já o Ibson... ZZZZZZZZZZZZZ...
O que fica de positivo dessa partida é constatar que o esquema tático implantado pelo Dorival Júnior vem dando certo, está amadurecendo, o que se reflete em mais uma partida sem levar gols, com uma defesa mais bem postada e um meio-campo mais brigador, que marca melhor, está mais bem distribuído em campo e que, apesar da falta de um “camisa 10”, cria um pouco mais, dá velocidade ao jogo e entrega a nós flamenguistas um Flamengo que gostamos de ver: sem medo de atacar, partir pra cima de qualquer adversário, com responsabilidade na defesa, é claro. O Manto Sagrado rubro-negro foi forjado no ferro e fogo do futebol ofensivo, não sabe jogar só se defendendo. Tem que dominar as ações, dar as cartas, ainda que o resultado não seja o esperado, a vitória, claro! E, apesar de o Botafogo ter ido bem e do Flamengo ter ido um pouco melhor, a frustração veio como a bola do Liédson no travessão, no fim do jogo: um baque.
E assim se vão doze anos e dezoito partidas de Flamengo invicto contra o Botafogo em campeonatos brasileiros.
Ainda que sem sal...

*Thiago Aresta, apesar de hipertenso, gosta muito de sal, vide sua habitual mania de comer bacalhau semi-dessalgado, é claro!

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