Thiago Aresta*
É sempre assim. A noite anterior
é mal dormida, as horas antecedentes se arrastam, o planeta parece atrasar seus
movimentos de rotação e translação de propósito! Uma tensão gostosa de sentir,
essa tensão pré-clássico, que toma conta do amante à espera da coisa amada! Seja
no estádio, num bar, com os amigos, até mesmo sozinho, em casa, domingo de
futebol é assim, domingo de clássico é assim... E comigo, óbvio, não é
diferente. Chega a Copa de 2014, a Olimpíada de 2016, a volta de Dom Sebastião,
o fim das profecias de fim de mundo, a hora de um tradicional time carioca
pagar a série B, mas não chega a hora do jogo...
Também pudera, hoje é dia de Flamengo!
Flamengo x Vasco, o Clássico dos Milhões. Uma das rivalidades mais acirradas do
futebol mundial: é impossível manter a tranquilidade. Confesso a vocês que,
quando vou ao estádio, junto com o Bonde do C3 (abraços: Pajé, Vitinho, Pablo,
Daniela, Thales, Otavio), o nervosismo é menor. Mas, dessa vez, vai ser em casa
mesmo, HAJA CORAÇÃO, AMIGOS.
E o momento não poderia ser
melhor para fazer esse embate ferver ainda mais: o Vasco briga no G4, tem um
elenco competitivo, um bom técnico e procura se reabilitar após o empate em
casa com o Coritiba e retomar a caça ao galo paraguaio. Já o Flamengo procura
se reencontrar: passa pela rehab
pós-Joel, agora é comandado pelo excelente Dorival Júnior, que procura dar uma
identidade, um esquema tático a esse time. Uma cara. Cara de Flamengo. Se, em
condições normais, vitória em clássico já é importante, agora ponha esses
ingredientes na balança e faça as contas: o que era importante aumentou
exponencialmente e passou a ser fundamental.
Sobre o Flamengo de Dorival,
taticamente falando, eu não consigo enxergar o esquema atual como um 4-3-3.
Para que essa formação tática se realize plenamente, essa trinca de meio-campo
tem de ser formada por jogadores fortes
tanto na marcação quanto no apoio (os chamados meias box-to-box, que vão da intermediária de defesa à de ataque com a
mesma desenvoltura); os atacantes abertos pelas pontas jogam com total
liberdade ofensiva, sem muitas obrigações defensivas, o atacante centralizado
volta pouco para buscar o jogo e concentra-se em jogar no último terço do
campo. Eu vejo o Flamengo atual num 4-5-1, com o Cáceres exercendo a função de
primeiro volante, Renato e Luiz Antônio mais à frente e Thomás e Negueba
jogando pelos flancos, tendo que compor o meio-campo, seja para defender ou
para apoiar os laterais e municiar o Love, que tá lá pra meter gol e fazer o
amor reinar pelo lado rubro-negro da força (não vou nem falar da zaga
rubro-negra, isso merece um texto exclusivo, hahaha). No fundo, no fundo, isso
é uma questão de visão, é uma opinião que tenho e achei legal trazer à mesa
para conversarmos.
Rolou a bola, vamos ao jogo! Como
em todo clássico, o jogo começou muito estudado, ambas as equipes com muita
cautela. O que deu uma maior dinâmica foram as jogadas pelos flancos do campo
de ambos os times, com destaque para Léo Moura, pelo Flamengo e Eder Luís, pelo
Vasco. Numa das descidas do Eder Luís, ele reclamou de pênalti, mas, cá entre
nós, ele chutou o chão, segue o jogo! Fora isso, nenhuma grande jogada ou
chance real de gol para ambos os lados. No duelo dos artilheiros, nem Alecgol
nem Love, apagados até então. Aos 30 minutos, após cobrança de falta de
Juninho, duas defesas do Felipe (numa delas, rebateu a bola, pra variar, para o
meio da área) e o alívio da zaga evitaram o gol cruzmaltino. Logo após, belo
lançamento do Felipe vascaíno para o Wendel, que arrematou para linda defesa do
arqueiro rubro-negro. Acorda, Mengão! Aos 37 min, redenção: Ramon deu bela
arrancada e bateu rasteiro, de canhota; Prass (a “muralha da colina”) bateu
roupa e a bola sobrou para ele, VÁGNER LOVE, que não perdoa! Mengão um a zero!
Só Love no Engenhão, VÁGNER LOVE faz a festa da Nação! O gol saiu quando o
Vasco tinha uma ligeira superioridade, mas o que vale é bola na rede, assim o
Mengão foi para o intervalo com vantagem e com o moral lá em cima! O time não
fez um primeiro tempo brilhante, mas já mostrou evolução na compactação dos
setores desejada pelo Dorival. Esse Flamengo está começando a ter uma cara!
O Vasco voltou para o segundo
tempo com o Carlos Alberto no lugar do Felipe. Cazalbé joga muito, mas é
maluco: logo em sua primeira aparição, falta no Cáceres e cartão amarelo
recebido. Não muda nunca. O Flamengo voltou sem alterações e com a minha, a sua
e a nossa torcida para que a postura do time não mudasse e o Mengo conseguisse
ampliar a vantagem no marcador. O Vasco, naturalmente, tentou exercer pressão,
teve algumas chances, mas Felipe garantiu a integridade da meta rubro-negra.
Aos 37 minutos, o impossível acontece: o menino Adryan passou como quis pelo
Juninho, avançou pela esquerda e rolou para o meio da área, com açúcar, amor,
afeto e disse ao Léo Moura: “Faz, vovô!”. Eram ele, a bola e o gol sem
goleiro... E o Léo não fez, errou a bola, tentou se recuperar, mas a emenda
saiu pior do que o soneto... INACREDITÁVEL! Àquela altura, era o gol pra ratificar
a vitória. Mas é isso, né, o que vem fácil para o Flamengo? Ah, Léo, ah, Léo...
Jogo que segue. É de se frisar a queda vertiginosa do Léo Moura no segundo
tempo. A idade parece estar pesando, o corpo já não aguenta o ritmo intenso de
noventa minutos de futebol. Uma pena isso acontecer com nosso capitão às
vésperas de alcançar a marca histórica de quatrocentos jogos envergando o Manto
Sagrado. O jogo seguiu morno, mas, ao fim de tudo, a vitória veio! Ó, meu
Mengão, como eu gosto de você!
Não foi uma atuação brilhante, é
claro, mas ganhar clássico é sempre bom, dá ânimo para a longa caminhada que o
Flamengo tem que trilhar no segundo turno do Brasileirão. E ganhar do Vasco,
todo rubro-negro sabe, é clássico! Rivalidade à parte, não foi uma vitória
qualquer: ganhamos de um Vasco postulante à vaga na Libertadores, no mínimo,
que tem um elenco competitivo e vai continuar brigando ali em cima. E é ótimo
ver que o Flamengo hoje evolui enquanto time, grupo e, a partir disso, é que
aparecem as atuações individuais. O Felipe pegou muito, a defesa segurou o
rojão, o meio-campo esteve bem, compacto e dando velocidade ao jogo, e o
Love... Só Love! Somem-se a isso os garotos que estão subindo, têm qualidade e,
lançados na hora certa, com a medida certa, passarão de promessas à realidade e
ainda vão nos dar muitas alegrias. É um alento ver que o Flamengo está (re)construindo
uma identidade. Milagre? Claro que não! TREINO e DISCIPLINA, amigos, isso é
nítido. Ponto para o Dorival, que está provando ser a escolha acertada para
colocar esse time no prumo e fazê-lo crescer e pensar em voos mais altos. Não precisa ser brilhante, basta ser FLAMENGO.
SRN
* Thiago Aresta aprecia Violoncelo, faz curso de Feng Shui em uma ong na Lagoa e A-DO-RA ganhar do Vasco! (que conste nos autos que só a última informação procede)
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