domingo, 30 de setembro de 2012

A estética do susto!





Otavio Meloni*


Pois bem, mais uma rodada que vai, mais um vacilo coletivo de Galo e Grêmio, mais uma vitória com cara de Abel e o Fluminense vai se isolando na liderança. Isso poderia ser motivo de sobra para um torcedor festejar, vestir camisa, encher estádios, esfregar na cara dos coleguinhas, mas não para este colunista. Nós, tricolores que assistimos ao rebaixamento consecutivo, que vimos nosso time saltar uma divisão via João Havelange, que vimos o Maracanã em prantos por conta de uma tal LDU. Nós, que nos últimos anos tivemos que reforçar nosso plano de saúde (UNIMED, é claro) para melhores atendimentos cardíacos, nós que entendemos que ser Fluminense, nos últimos vinte anos, não é algo fácil... Nós sabemos que ainda não é a hora! (vide PESSOA, Fernando. Mensagem...)
Não assisti ao Fla x Flu de hoje. Meu pacote de tv a cabo não tem premier fc e não quis passar o constrangimento de descer até o bar, que fica no térreo de meu prédio, e sofrer perante dezenas de pessoas a cada jogada mal resolvida pelo Flu. Fiquei em casa, com a porta aberta, o computador ligado no lance a lance de um site qualquer e vendo o jogo do Botafogo. No fundo, minha atenção estava toda na gritaria que vinha do bar, este era meu norte. Logo no início um grito isolado encheu meu peito de esperança, sim, era o gol de Fred. O belo gol de Fred! Uma voz, uma única e o silêncio. Luís Roberto interrompia o jogo do Botafogo para passar o voleio de Fred enquanto o Junior dizia a frase mais pronta desde "Futebol é uma caixinha de surpresas": "A la Bebeto!" 
Daí em diante foram muitos e muitos minutos de apreensão. A tensão da gritaria advinda do bar, no quando do pênalti  acalmada apenas pela voz isolada que comemorava a defesa de Cavallieri. O gol anulado (bem anulado, antes que o Cuca venha chorar em público de novo) e a agonia de um final de jogo, de clássico... Sim, o Fluminense venceu. Com gol de Fred, cara de Abel e defesa de Cavallieri. Com o Flamengo jogando melhor, com Cleber Santana perdendo gol feito, com Botinelli vendo sua chance de se reconciliar com a torcida parar nas mãos do arqueiro tricolor, com dois balaços de TN10 nas traves rubronegras, com tudo isso! O Fluminense venceu de novo mas nada mudou: persiste por aqui a estética do susto, do estranhamento, do desconfiar até o apito final.
Ora, esse já foi um grande Brasileirão, tricolores! Não me lembro há quantos anos não vencíamos tantos clássicos na mesma temporada, somando carioca e brasileiro. Já escapamos do rebaixamento, já praticamente garantimos a Libertadores (segundo os matemáticos 64 pontos serão suficientes para isso), estamos seis pontos na frente do vice-líder (que acreditem, não é o Vasco) e temos o artilheiro do campeonato. Faltam 11 rodadas! quem sabe onze resultados de 1 x 0 e o tetracampeonato no bolso... quem sabe!? Mas este colunista não se engana e, assim como esse blog, prefere olhar a situação com a ressalva que lhe dá título: "Só acaba quando termina"! E assim sendo, mais uma rodada na liderança, sem pedir mais, amém!

ps: Estamos recolhendo assinaturas para a Igreja Abelística dos quatro volantes, quem quiser ajudar basta falar com o apóstolo Diguinho.

*Otavio Meloni só vai comemorar qualquer coisa após a 38° rodada ou quando matematicamente não houver possibilidades de tudo mudar.

De (nem) tudo fica um pouco...



Thiago Aresta*


Drummond que me desculpe pelo inconveniente de usar um verso de um dos seus poemas mais belos para capitular esse texto, mas foi o título que me veio à cabeça enquanto escrevia essas linhas tortas. Mas o que fica de um domingo desses? É ruim pra cacete, pra quem gosta de futebol, é claro, fazer qualquer coisa após uma derrota de seu time do coração. Comigo não é diferente, amigos. E escrever, então... Tentar aprisionar em palavras esses pensamentos que insistem em voar tão rápido, mas me cabe fazê-lo. Vai que assim eu consigo me livrar dessa sensação de frustração. É isso, estava procurando uma palavra pra definir essa sensação de estar extático após ter presenciado mais um revés ruim de digerir. Frustração define.

Três pontos deixados no gramado do Estádio Olímpico João Havelange, menos três num campeonato que começa a afunilar. E perdidos para um time que, dizem os entendidos, “jogou como campeão”. Então, segundo a ótica dos entendidos, um campeão é aquele time que passa noventa minutos em busca de uma bola, um gol e, quando consegue, já no início da partida, passa o resto do tempo se defendendo, numa retranca intransponível, abdica do jogo e passa a contar com o relógio... Isso é “jogar como campeão”? Recuso-me a comprar tal ideia. É, no máximo, sorte, uma fétida e consistente cagada. Agora vejo estes mesmos entendidos exaltando o técnico do time em questão como um “estrategista”. Agora vocês vejam, um Joel sem prancheta, que chegou no livro dois do cursinho de inglês e com grife (?). Claro, agora estratégia é tirar um centroavante pra pôr um volante e entregar o meio-campo ao adversário... E já ia me esquecendo, estrategistas desse naipe não fazem retranca: têm, no máximo, um “forte esquema defensivo”.

Faz parte da estratégia também insistir no famoso “cai-cai”. Alguém do Flamengo encostava em algum jogador adversário e pronto: tava lá um corpo da turma do caipisaquê estendido no chão. E param o jogo, entra equipe médica, sai gente de carrinho. E o tempo passa... Mas o relógio estava a favor do adversário, quem se importa? E o juiz sendo conivente com essa estratégia de terceira do adversário para fazer o tempo passar... Numa boa, a caterva de arbitragem parece ter vindo bem, digamos, orientada para essa partida; o juiz não influenciou no resultado, isso seria óbvio, mas, através dos dois pesos e duas medidas na hora de conceder faltas e, consequentemente, consignar cartões, acabou por minar o Flamengo no detalhe, observem bem a perversidade. Quanto ao cai-cai e à milonga do nosso adversário, só tenho uma coisa a dizer: um time pode até sair da terceira divisão (na marra e no tapetão), mas a terceira divisão não sai do time. De jeito nenhum. Se bem que cai-cai (ou melhor, cai-cai-cai) é uma prerrogativa, uma peculiaridade, uma vocação desse nosso oponente, né...

Mas, meu amigo, o futebol não faz justiça, não tem merecimento e tem um dado imponderável e inquestionável: bola na rede. Esse negócio de “vencedor moral” é conversa pra urubu dormir! Não tem lero-lero nem vem cá que eu também quero. E nisso falhou o Flamengo. Por mais aguerrido que tenha sido (no segundo tempo), por mais que tenha criado, por mais que tenha tido a bola, por menos passes que tenha errado, faltou botar a gorduchinha pra dormir tranquila no filó. No primeiro tempo, o Flamengo teve boas chances, mas faltou aquela tenacidade de não perdoar... As duas mais claras saíram, cronológica e respectivamente, da cabeça e dos pés do ZZZZZZibson que, na primeira, sozinho, pôs a bola rente a trave e, na segunda, após boa tabela, não teve o tesão que deve ser peculiar àquele agraciado que fica na cara do gol. Cabeçada do Nixon, INACREDITÁVEL do Cléber Zidane ops Santana, Love sem conseguir dominar uma bola sequer... É, parece que de quarta passada não ficou nada para o time... Mas a Magnética fez seu papel e, mais uma vez compareceu, mesmo sem promoção, cantou, aplaudiu, apoiou, entoou o hino, mas, dessa vez, não conseguiu fazer gol.

Até que, num bololô na área, parou tudo! O juiz apitou e apontou a cal: penalidade máxima para o Mengão! Wellington Silva (que, diga-se de passagem, fez mais uma boa partida, com direito a caneta no lateral-esquerdo do lado de lá, o de çelessaum) foi derrubado por um brucutu de estimação do “estrategista” e o apitador-candidato-a-vereador-em-Itaboraí não hesitou. Festa da Magnética, parecia que finalmente viria a redenção e a chance de gritar bem alto pro Mengão o quanto gostamos dele, ainda mais forte quando de um gol. Só que, se não é o dia, não é o dia, mais uma vez, não teve jeito.

Um pênalti, todos sabemos, é um momento único, o ápice de uma partida. É tão importante que alguns dizem que tem que ser cobrado pelo presidente do clube (se bem que, no nosso caso, isso só conseguiria fazer com que a coisa se sucedesse de maneira ainda mais tétrica). É um momento de protagonismo e, obviamente, tem de ser convertido por um protagonista. Taí outra carência desse elenco do Mengão: não tem um líder, um “patrão”, um cara que chame a responsa, que bata no peito, peite treinador e diga que vai bater e pronto, dane-se se vai fazer ou não. Que tenha colhões, em suma. Essa cobrança poderia ter sido feita pelo Renato que, mesmo voltando de contusão, é forte em bola parada; mas não foi. Pelo Cléber Santana que, mesmo não sendo uma Brastemp, mostra um pouco de categoria; mas ele estava extenuado. Pelo Love que, mesmo não conseguindo dominar uma bola direito, briga pela artilharia do campeonato e um golzinho a mais não seria nada mal; mas ele não tinha treinado esse fundamento. Sobrou pro Bottinelli, nosso argentino do Paraguai que, a seu favor, tinha aquela partida mágica que virou contra esse oponente, a mística.

E só a mística não foi suficiente...

O que fica desse jogo? A entrega, a vontade, o apoio da torcida. O que espero que não fique: essa falta de sorte que insiste em nos acompanhar e a falha defensiva que deu chance ao azar. Mas um alento, ainda que de leve, é perceber que, se forçar um pouco mais, correr um pouco mais, acreditar um pouco mais, a gente faz esse urubu voar ainda mais alto, ainda nesse campeonato.

E em verdade, em verdade vos digo, caríssimos irmãos em Zico: no mundo do futebol, existem duas coisas, o Flamengo e o resto. O Flamengo, nós amamos, acompanhamos e cobramos, esse permanece.
Já o resto...

(Eu ouvi um “amém”?)

SRN

*Thiago Aresta está meio amargo neste post pois provou da lúdica visão do que é futebol de Abel Braga. Esperamos que ele se aclame, pois o Fla ainda precisa de nove pontos pra sair da degola de vez!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

“Winner, winner, chicken dinner!”




Thiago Aresta *


Confesso que essa expressão pulula em minha mente desde que assisti o filme “Quebrando a Banca”, em que um grupo de gênios de uma universidade americana aproveita seus dotes para faturar alto nas mesas de Blackjack, o nosso famoso “Vinte e um”, levando à bancarrota vários cassinos da mítica Las Vegas e se tornando um pesadelo para os magnatas donos desses estabelecimentos e seus ávidos capatazes. O líder do grupo, gênio-mor, professor do MIT, desenvolveu um sistema infalível para, observando as cartas, descobrir a contagem de cada mesa e favorecer a aposta certeira, além de um complexo sistema de sinais que seus pupilos utilizavam para compartilhar essa informação. Trocando em miúdos, eles conseguiram transformar, através da ciência, um jogo de azar em jogo de sorte. E põe sorte nisso!

Mas e o frango? E o jantar? Bem, pesquisando nas internetes da vida, descobri que a frase lapidar, numa tradução livre e tosca, “A quem ganhar, frango para o jantar”, tem origem em Vegas onde, por muito tempo, o jantar especial de frango custou um dólar e setenta e nove centavos. Como a aposta padrão, básica dos cassinos, rendia dois dólares, o afortunado teria dinheiro suficiente para degustar um prato desses no jantar. E, numa tacada de sorte, tudo isso fez sentido, mas não no verde do feltro das mesas de apostas de Las Vegas nem no preto e no vermelho de espadas, ouros, paus e copas do baralho, mas no verde do gramado do Estádio Olímpico João Havelange e no preto e no vermelho do futebol, no tão esperado confronto postergado entre Flamengo e Atlético Mineiro.

Começando pelo Galo, pareceu-me incompreensível e incongruente o excesso de cautela com que o time mineiro, brigando ponto a ponto pela ponta da tabela e em tão boa fase como apregoam, entrou em campo; o Atlético, diferentemente do Corinthians do ano passado, não conseguiu manter o fôlego após um início de campeonato fulgurante. Justiça seja feita, o moleque Bernard, que joga muita bola, fez falta, é mais de cinquenta por cento do time do Galo. Nota triste fica por conta da atitude de marginal que teve o Réver ao desferir uma cotovelada horrenda contra o Cáceres. Foi expulso e bem expulso, mas agora eu quero ver se esse tal de STJD funciona mesmo: doze jogos para isso não é nada!Disseram que um tal de Erre49 jogaria, mas, sinceramente, não o vi em campo. Se bem que não é problema nosso, o máximo que esse cara é do Flamengo é credor e, mesmo assim, no fim da fila! E teve choradeira no fim do jogo... Peraí: choradeira, camisa alvinegra, Cuca. Era Atlético Mineiro ou Botafogo? Só faltou o Lúcio Flávio pegando o microfone e, aos prantos, declarando o seu time como “vencedor moral”... De acordo com o disposto, fica definido que o Atlético de Minas é um Botafogo: 1. que fala “uai”; 2. com requeijão ou doce de leite (ao gosto do freguês).

Só que o Flamengo não tem nadica de nada a ver com isso e fez o seu dever de casa. Tomou a iniciativa, controlou as ações, foi pra cima, dominou o território, deu as cartas, pegou o morto e bateu na mesa: foi Flamengo. Finalmente, caríssimos irmãos em Zico! Não tem uma equipe de gênios, evidente, como no filme, mas suou a camisa, teve raça e deu sangue. Acreditou. O Dorival, como bom jogador que é, jogou as cartas certas: com cada um em seu lugar, fez uma canastra limpa com o que a sorte trouxe às suas mãos. Sem inventar, blefe é do jogo. O lance do segundo gol foi, como num conto, a célula dramática do jogo de ontem: o Wellington Silva foi pra dentro, foi Flamengo, acreditou, cruzou para o Liédson, que guardou, com estilo. Aplicação e confiança. Insisto, não há gênios nesse Flamengo, mas o grupo não é dos piores, mas faltava algo para dar liga, um catalisador. Ele chegou, não é uma Brastemp, mas preencheu a lacuna do setor criativo do rubro-negro: Cléber Santana (pro que tem o Flamengo, não seria exagero chamá-lo “Cleberniesta”), experiente e bom de bola, sem firula, fazendo o básico. Tudo começou com um golaço do Love, gol de centroavante, de quem sabe e, acima de tudo, acredita. E tudo terminou com mais uma vitória do Flamengo, a segunda seguida após um jejum de sete jogos. O terceiro jogo sem derrota e o sétimo de nove pontos conquistados. O burro continua lá, com trinta, e o urubu já voa à meia-altura, com tinta e quatro... Ufa! E, assim como em Las Vegas, para o Mengão, frango de jantar. Ou melhor, galo. À carioca! O que acontece em Vegas fica em Vegas, mas o que aconteceu no Engenhão correu o mundo, impulsionado pela força da magnética!

E a magnética merece nota especial, menção honrosa, medalha de honra ao mérito: QUE COISA LINDA! Aquele binômio indissociável do qual falei no último texto, time e torcida, provou, mais uma vez, que é osso duro de roer ou de bicar. E um puxa o outro, não tem jeito. Fica aí, mais uma vez, o recado para nossa possante diretoria: o preço do ingresso influencia SIM na ida ao estádio; essa promoção, de caráter emergencial, provou isso. Se o negócio é lucrar com preço alto, o que leva menos gente ao estádio, pode-se inferir que mais gente, a um preço menor, propicia lucro similar, além de altas possibilidades de contar com estádio praticamente lotado e jogar com a força da torcida incentivando o time no peito e na raça, no canto e nas palmas. Mantenham esse preço para o campeonato e tragam a torcida para junto dos jogadores, ou então vou achar que isso é só desculpa pra jogar a responsa pra cima da torcida, já que a incompetência administrativa e gerencial de vocês afasta o torcedor do seu habitat natural enão consegue dar conta de uma instituição do tamanho do Flamengo. Valeu, Nação! Estamos de parabéns! É muito orgulho fazer parte disso!

Se “Winner, winner, chicken dinner” foi o que a aposta padrão nos rendeu…
Então por que não ousar mais e variar esse cardápio?
A magnética espera, ansiosa, mais um convite para jantar!
Domingo tem mais. Estaremos lá!

SRN





*Thiago Aresta acaba de afirmar que não é mais afiliado ao PMDB,  mas fontes seguras indicam que ele está de saída para o PSD, o partido do Kassab.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Tudo por Ele!



Thiago Aresta*



Caríssimos irmãos em Zico!

A frase contida na faixa rubro-negra presente na singela foto que ilustra o topo deste texto encerra todo o sentimento, todo o exercício de abnegação diária que nós, torcedores comuns, amadores, torcedores de ofício não-remunerado, fazemos nessa tarefa hercúlea, mas recompensadora, que é o ser Flamengo. É bem verdade que essa faixa, em interpretação restrita, é quase que como uma insígnia de uma das mais proeminentes “torcidas organizadas” que apoiam nosso clube e está impedida judicialmente de figurar em estádios, seja diretamente ou em qualquer alusão. E é bem verdade que aí temos duas mentiras, todo mundo sabe a quem especificamente essa faixa se refere e sabe, também, que o que nela está escrito não é a prática, pois essa torcida se vale do Flamengo, lucra com ele. Ao contrário de nós, “torcedores comuns”, que temos que mofar em filas e pagar um ingresso com um custo-benefício dos piores e mais injustos. Essa é uma abnegação das maiores. Estamos ali por pura profissão de fé, podemos e devemos fazer a diferença. Não cobramos nada além de dedicação. O jogo contra o Grêmio foi prova disso: houve a promoção de ingressos, medida emergencial que surtiu efeito, a redução de dez dilmas no preço atraiu, pelo menos, o triplo de torcedores ao estádio; e a torcida mostrou ao time: “Se você for, nós vamos junto, então vamos pra cima!”. A mudança de atitude no segundo tempo, de time e torcida, foi a prova de que esse binômio, time e torcida, é indissociável, apesar dos pesares, e cabe à diretoria, por mais incompetente que seja, tomar medidas para fazer com que esse encontro se realize plena e frequentemente. Uma delas seria a modalidade de sócio-torcedor com direito a voto - como, aliás, faz o próprio Grêmio – o que traria o torcedor DE VEZ para dentro da realidade e da vida do clube, mas o pavor da perda da hegemonia político-administrativa dentro do clube é maior que a vontade de vê-lo crescer. E se dizem flamenguistas... E esse último jogo é a prova cabal da força rubro-negra no campo e no estádio: o Flamengo, vindo de um jejum de vitórias, cambaleando, jogando fora de casa e muito longe do Rio, contra outro time em desespero, lota TRÊS TERÇOS de um estádio com torcedores aflitos, mas apoiando e sim, fazendo a diferença, empurrando o time e virando o jogo. Agora imagina isso em escala nacional: isso é Flamengo, seu patrimônio maior é sua torcida, dentro e fora do Rio, um fenômeno, ainda que seja vilipendiado por anos e mais anos de incompetência sucessiva e descaso velado. Sou sim um defensor do futebol em sua mais pura expressão, seja pelo jogador, seja pelo torcedor; e compreendo quando esse torcedor, pelos mais diversos motivos, prefere o sofá à arquibancada (e que não me venham os modinhas nem os caga-regras dizer que esse cara é menos torcedor do que o que está no estádio; torcida é paixão, irracional, espontânea, não importa onde se esteja. Somos todos torcedores: de arquibancada, de geral, de sofá, de bar, de radinho de pilha, de streaming de internet... Não fode!). Mas nessa reta final, cada jogo é decisão, todo esforço é necessário. O duelo contra o Atlético-MG se avizinha e a responsabilidade é grande. Esqueçam o Erre10, o que deve mover nossos pulsos, impulsos, gritos, cantos e palmas é a busca pela vitória, que se torna cada vez mais necessária; e nós podemos ser parte disso, jogar junto, entrar em campo: fomentar a vontade e fiscalizar as incorreções; espraguejar num erro, mas aplaudir o acerto ou o esforço na busca dele; deixar dessa coisa escrota que parte, em muitas vezes, das “organizadas”, de vaiar determinado jogador quando ele pega na bola: quando o jogador entra em campo, ele deixa de ser ele mesmo e passa a ser Flamengo, quando eu visto o Manto, eu sou Flamengo, quando estamos em corrente visando a um mesmo objetivo (a vitória, o título, a redenção) todos somos Flamengo. Façamos nossa parte!

SRN

P.S.: minha responsabilidade aqui só aumenta a cada dia: não bastasse dividir essas páginas com um amigo que é líder do campeonato, agora figuram por aqui escritos também do segundo colocado do torneio!

P.P.S.: não vou usar a terminologia corrente para o ocupante da segunda posição de um torneio, por medo de ferir algum direito de propriedade, material ou intelectual, e ter que vir a responder por isso, pois todos sabemos que esse termo é patenteado por um rival histórico nosso, aqui do estado, e que se encontra, literalmente, numa seca danada...

*Thiago Aresta é afiliado ao PMDB, por isso fez média com os colegas colunistas que estão em melhor posição da tabela.


sábado, 22 de setembro de 2012

Preparado? Sim, pode chutar!



Otavio Meloni*


Amigos, apesar da vitória sobra o Náutico e da manutenção da liderança do brasileirão, este post não falará sobre o Fluminense. Hoje dedicarei este espaço a uma de minhas principais distrações de infância e parte da adolescência: o jogo de botão. Ontem, estava pesquisando na internet sobre a nova data de lançamento do PES 2013 no Brasil (foi adiantado para sexta que vem, aleluia) e acabei me lembrando de quando os jogos de futebol em games ainda eram arcaicos e a gente se divertia mesmo era com uma tábua de botão. 
Como uma coisa puxa a outra, as lembranças foram se somando até chegar às manhãs de sábado em que íamos, meu primo e eu, com meu pai comprar botões na superboll, no centro de Niterói. Havia todo um ritual neste processo. Primeiro, a superboll tinha um balcão/vitrine que era de vidro e tinha umas gavetas com divisórias que separavam os botões por seus preços/qualidade/posição. Aquele era o maior paradoxo dos meus oito anos: comprar dois mais baratos de uma camada ou um de duas camadas? Droga de vida de menino com mesada pequena. Pois é, comprávamos o que dava, mas não sem antes testarmos paletando sobre o balcão de vidro e analisando o deslize do futuro craque, sua capacidade de encobrir o goleiro, se havia algum "dente" na bainha, essas coisas. Depois disso, corríamos para a casa de meu primo, onde nossas mães já planejavam algum almoço mirabolante, para começar a jogar com nossos times e as novas estrelas.
Esse é outro ponto importante. Cada um tinha um time próprio, sem logomarcas ou escudos de times reais,com botões mesclados, nada uniformizado. O time do meu primo se chamava "Agente Laranja" e o meu time era o "IRA". Logicamente, o Agente Laranja colecionava mais vitórias em nossos confrontos, devido a maior experiência de meu primo na prática do jogo de botões, mas cada jogo era sempre uma disputa emocionante. Lembro de uma manhã em que descobríamos novos craques para nossos times e travamos um dos jogos mais emocionantes da história desses confrontos, um desses jogos que, por ironia do destino talvez, preferem ficar empatados, mesmo após duas prorrogações. Passávamos grande parte do nosso tempo preparando nossos times, treinando, pensando em esquemas e tentando levar para a tábua o máximo de nossa compreensão sobre futebol. Quem jogou botão sabe que não há melhor maneira de experimentar táticas e posicionamento de futebol do que num jogo desses.
Com o tempo, o IRA se transformou em OCN e hoje, grande parte desses craques ainda estão em minha posse, assim como minha tábua de botão, traves excelentes, paletas, bolinhas... enfim, só falta ter com quem jogar. Se alguém ainda se interessar por este esporte, comente aqui, pois podemos marcar um campeonato. Esse saudosismo todo... amanhã vou abrir o "ônibus" do OCN e dar uns chutes pra relembrar como se encobre o goleiro com categoria.

*Otavio Meloni sofreu muitos gols do meia esquerda Epocler, mas também fez muitos gols com Ameixa, dois dos craques que tanto abrilhantaram essas manhãs/tardes de botão.

sábado, 15 de setembro de 2012

"Ainda bem, mas até quando!"



(O Sóbis ficou me devendo um post decente, culpa dele!)


Otavio Meloni*

Se um leitor mais atento quiser ser chato vai dizer: "O título desse post é uma frase do post do medo da seleção de Mano!" É mesmo!, você não está errado. Antes que algum desavisado babaca venha dizer que há um pessimista atrás dessa tela em branco, eu vou avisando que sou tricolor e quero ser tetra campeão brasileiro, mas estava evidente que os tropeços iam começar a acontecer. Eu não esperava que o primeiro fosse em casa, na nossa sucupira cinzenta (apud: MORAES, Aline), contra um dos lanternas do campeonato, mas esperava que viessem. O mais engraçado é que tudo parecia caminhar para mais uma vitória suada e nervosa, como as de sempre, mas hoje não Galvão.
O jogo atrasou por conta dos refletores que sucumbiram no estádio da cidadania. O fato deverá gerar manchetes medíocres como "Apagão tricolor" ou "Flu sem brilho", mas se você veio ao nosso blog não é esse tipo de manchete que quer ver. Logo, não se preocupe. Voltemos ao jogo. Abel ousou, sim, ousou (para os moldes Abel) e ao invés de entrar com Diguinho no meio, recuou Thiago Neves e colou o Sóbis no time. Sóbis que jogou nada, se machucou e ainda fez a coisa mais traumática deste sábado. Explico: enquanto aguardávamos o acender dos refletores, os alto-falantes do estádio tocavam a introdução de "Seven nation army". Neste momento olho para o campo e vejo Sóbis, sozinho, chutando bolas pro gol, logo pensei: "É hoje que o Sóbis mete uns dois e eu nem vou ter trabalho para escrever minha crônica... mas não foi.
Assim como Sóbis, o time todo deixou a desejar quanto a técnica. O primeiro tempo foi o jogo de um time só, o Flu. Mas em dois contra-ataques o Atlético de Goiás meteu dois gols: um de falta e um de corner. O goleiro Flávio impediu com grande defesa o gol de Thiago Neves e foi só. Depois do intervalo o flu voltou com duas alterações: saíram Samuel (berilaum) e Carlinhos ( que foi massacrado pela torcida em mais uma atuação pífia) e entrarem Higor e Wallace, mais dois desses garotos que o Flu forma em Xerém e a Unimed vende pra Rússia. O time melhorou. Esse Higor tem bola, em breve será um ótimo camisa 10, podem esperar, e o Wallace fez o que o Carlinhos não fez no primeiro tempo: apareceu pro jogo. O Flu melhorou, mas daí a virar eram três gols sem levar mais nenhum. No meio do caminho, Sóbis machucou e abriu espaço para Michael (outro de Xerém), que meteu o gol de honra. Depois, foram vinte minutos de chuveirinho, uma cera irritante do goleiro Flávio e mais uns dois milagres do arqueiro goianiense, um em bela jogada de bicicleta do Michael.
O Flu perdeu. Foi a segunda derrota neste brasileiro, vejam bem. Ainda somos líderes até amanhã, basta secar o Galo mineiro. Libertadores só escapa se houver uma catástrofe. Acho que tudo isso, somado às vitórias que viemos conseguindo sempre de forma apertada (estilo Abel que tanto gosto) fizeram com que boa parte da torcida não vaiasse no final do jogo. Afinal, nós já sabíamos, essa hora ia chegar!
Tristezas a parte, fiquei pensando em duas coisas. A primeira delas é na geração de jogadores que o Fluminense está formando para os próximos anos. Esse menino Higor é bola, você sabe quando o cara leva jeito pra craque quando ele já domina a bola olhando pre frente, vislumbrando o campo todo. vai dar trabalho. o Wallace, o Nem, o Michael, o Eduardo... Acho que a gente tem time pros próximos cinco anos, é só não vender. A segunda é perceber como a torcida do Flu está cada vez mais jovens. Muitas crianças e adolescentes de uniforme, cantando o hino, as músicas de arquibancada, etc. Muito feliz em ver isso!
No mais, é secar o Galo, o Grêmio e torcer para que o estilo Abel retorne, já na próxima rodada. Sábado que vem estaremos lá no Raulino de novo, contra o Timbú!

*Otavio Meloni está certo de que o que ocasionou a derrota do Flu foi ter levado sua mãe, rubronegra, ao Raulino neste sábado. Calma amigos, isso não se repetirá contra o Náutico!

Happy Andy!




Ivan Kano*


Não, eu não vi o início do jogo, comecei a assistir quando Djokovic iniciava a reação a partir do terceiro set. Sim, terminado o quarto set, achei mesmo que eu é que tinha zicado parada, que a derrota era questão de tempo. Desculpem, mas, depois de tanto tempo vendo Andy Murray cumprir sua via crucis em busca de um Slam redentor, confesso que comecei a desenvolver um certo botafoguismo, aquela mistura descabida de sebastianismo e filosofia estoica que transforma a superstição em lei da física, a derrota em sina – em suma, a fatalidade em destino. A meu favor havia dois dados: fazia bem pensar que Andy poderia finalmente vencer na quinta tentativa, tal como Lendl, seu treinador; era muito simbólico que Mori exorcizasse o fantasma na mesma Arthur Ashe onde, quatro anos antes, disputou sua primeira final de Grand Slam, contra o Federer. O ser humano, sabemos, é uma máquina de ver sentido onde não tem e, no fim das contas, pra bom botafoguense, meia crendice basta.
O fato é que resolvi preservar a saúde e não assisti ao início do jogo. Se tivesse sorte, veria o final, um quinto set com dois jogadores se arrastando em quadra, aquele mezzo clássico mezzo clichê do tênis que só não é mais desesperador porque em Nova Iorque vamos, no máximo, até o décimo-terceiro game. Liguei o streaming, dividido entre o desejo improvável de ver o britânico encerrar o drama de uma vez e a certeza de que o sérvio, de alguma maneira, reagiria. Era previsível, afinal. Um pouco pelo que a gente conhece do Murray (tá, bastante, sim), mas muito pelo que já se viu Nole produzir, especialmente quando liga o modo O último dragão branco de jogo: consigo imaginá-lo, de olhos vendados pelo Marian Vajda, treinando aquele maldito forehand na linha que o colocou na final dos dois últimos US Open. Por isso, mais do que ter vencido os dois primeiros sets – indo além do que jamais havia feito em uma final desse nível até então –, e mais até do que ter iniciado o quinto set com uma quebra, foi no sexto game da última parcial que Andy mandou um sonoro hoje não! pro sujeito postado do outro lado da rede. Liderando por 3/2 e saque, mas pressionado por ter perdido uma vantagem de 3/0, e quando todo mundo talvez desse como certa uma virada nada incrível, dado o histórico autodestrutivo do escocês, Andy foi lá, deu quatro saques e fechou o game em pouco mais de um minuto. Soa como desdém agora, mas depois daquilo os games restantes me pareceram meramente protocolares – Andy seria de fato campeão de um Grand Slam.
E o bem que Andy fez ao mundo talvez seja provar que não é preciso parecer um androide pra ser campeão neste esporte. A passividade, os novecentos e quarenta e dois vírgula quatorze break points não aproveitados por hesitação, a instabilidade mental: todas as razões já apontadas pra explicar seu fracasso apareceram durante a campanha vitoriosa. Era uma questão de achar a medida, uma questão de ajuste, não de transformação radical.
É claro, não é preciso torcer pelo Andy pra saber de seu potencial técnico, do slice, do dropshot, da variação de velocidade dos golpes, das passadas e do etc.: basta assisti-lo jogar. Mas só quem torce por ele sabe apreciar o potencial trágico da figura. Na era do “melhor da história”, Mori peca por sentir o peso do mundo – ou do Reino Unido – nas costas a cada forehand. Num esporte que exige, por estranho que seja, a força mental de uma máquina, ele paga por encenar um Hamlet a cada erro não-forçado. Nos tempos da comunicação, do showman (ainda prefiro entretainer) , é acusado de não sorrir quando deveria. A antipatia com que muitos o desmerecem, aliás, nasce justamente dessa dificuldade de ser como as pessoas esperam que ele seja. Andy Murray não tem um manual de instruções muito óbvio nem é figura lá muito rentável – ao contrário daquele moicano, Andy, sim, é apenas um garoto brincando com sua raquete. Batalhando no meio de gente que tem sido campeã em tudo, num mundo em que somos obrigados a ser campeões em tudo, Andy insiste em ser um personagem estranho, instável, literário demais, até no modo de viver seu merecido happy end. Mas, pasmem, gente assim, vez ou outra, também tem direito ao paraíso.

*Ivan Kano acompanha tênis há muitos anos, apesar de ser corintiano, e estava devendo este slicer para nosso humilde blog. Dono de texto impecável, só lhe falta um grand slam... quem sabe aqui!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Sentimento Atleticano


Marcus Duarte*




Este ano o atleticano passa por uma angústia. São 40 anos de jejum do maior campeonato de futebol neste país. Nestas 4 décadas o Galo teve momentos gloriosos e outros de esquecer, como cabe a qualquer grande clube do país. Neste sobe e desce do campeonato o Galo foi tachado de clube pequeno por seus adversários.
Tentando ser o mais imparcial possível, não concordo em chamar de pequeno um time que ficou 15 vezes entre os 4 primeiros colocados e ainda é o 10º colocado no ranking nacional de clubes divulgado e organizado pela CBF (à frente do botafogo e fluminense – só para irritar o editor chefe deste blog). O Galo é sim um clube grande e de tradição como aqueles que disputam com ele o título deste ano (Grêmio e Fluminense). O problema é que o Atlético é um time grande que jogou os últimos 15 anos como pequeno. Tenho que reconhecer, fomos pequenos (não somos). E isso dói no atleticano. Viramos piada nacional. Infelizmente, a piada foi justa. Nestes anos, não era o Galo, parecia um impostor!
Em 2009, num arremedo de time, fomos chamados de cavalo paraguaio e no fundo sabíamos que seria assim. Mas agora, não! Não somos cavalo paraguaio! O brio, o orgulho de ser atleticano volta a encher os olhos dessa massa apaixonada. Não garanto o título no final do ano (aliás, quem garante?). Mas isso não faz de nós, cavalos paraguaios.  Este rótulo, meus amigos, ficou pra trás. Ganhar ou perder é parte do jogo, mas lutar até o final com raça e jogando o fino da bola faz o atleticano bater no peito e dizer, somos cavalos puro sangue (preto e branco).
O que o Atlético (e o atleticano) conseguiu este ano já é uma conquista imensa. Voltamos a ser respeitados. Ninguém chega aqui em Minas já computando três pontos na bagagem como foi outrora (há mais de 1 ano que ninguém consegue este feito contra o Galo). O Galo mostrou que é grande e volta a figurar entre os grandes. As piadas de hoje me parecem mais medo da volta do gigante do que uma justa zombaria a um time apequenado.
Volto a dizer, ganhar ou perder é parte do jogo. O Fluminense faz uma campanha fantástica e, se ganhar, parabéns. Terá ganho com méritos. Ficarei triste se isso acontecer. Mas essa tristeza passará rápido, pois saberei que meu time renasceu, voltou ao lugar de onde nunca deveria ter saído: o seleto grupo dos grandes clubes do país.

Ôôôôô vamos voltar Galôôôô, vamos voltar Galôôôôôôô!!!!



*Marcus Duarte é apaixonado por esporte e música, não necessariamente nesta ordem. Atleticano preto e branco e fã do tricolor Chico Buarque, além de profundo conhecedor da arte do pão de queijo e do torresmo!



domingo, 9 de setembro de 2012

To Nem aí!

(Mesmo sobre forte marcação, Nem fez a diferença no Beira-Rio)

Otavio Meloni*

Pois é minha gente, não é que o Fluzão ganhou de novo. Mais uma com o estilo Abel de jogar bola: acha-se um gol e depois é só segurar! Foi assim que batemos um combalido Inter, cheio de desfalques, jogadores em suas seleções e de um incrível espírito de porco. O Fluminense não tinha nada com isso, afinal trata-se de um campeonato de pontos corridos e quem tem melhor  elenco sempre se dá bem. O problema é que apesar desse história dos elencos, sempre tenho a impressão de que o Flu pode entregar o jogo, o campeonato, o intervalo e tudo mais a qualquer pixotada do Gum, ou tentativa de arrancada do Diguinho. Pois é, mas hoje não foi assim e a nossa defesa, mesmo que este incrédulo torcedor/editor/crônista, ache que o pior irá acontecer. Daí vem o ataque e nele temos o artilheiro desta bagaça de campeonato: um senhor chamado Fred que sabe jogar a bola na rede. Pode parecer pouco, mas tem muito time precisando de um desses. E tem o Nem. Eu não sei se o Nem será o novo Lenny, mas tem o Nem e o moleque tá comendo a bola. Hoje ele pentelhou tanto a zaga do Inter que eu acho que o Abelão o tirou no segundo tempo com medo dele tomar uma foiçada dos habilidosos Índio e Moledo. A arrancada e a assistência para o gol do Fred já poderia ter sido o suficiente para lhe valer o posto de craque do jogo, mas ele jogou muito! Por isso eu digo: To NEM aí, o galo que se cuide que a gente tá achando a forma do Abel! 


Na boa, dia 15 e dia 22 de setembro, tem jogo do Fluzão aqui no Raulino. Cobertura total do So Acaba!

Duas torres e a conta



Thiago Aresta*


Era uma quarta-feira como outra qualquer. Aliás, era um dia como outro qualquer, desses dias padrão, no qual tudo se desenrola da mesma forma e ao qual se convencionou chamar quarta-feira por pura e simples questão de ordem, sucessão de tempo, burocracia. Pura burocracia. Burocráticos são meus dias, burocrático é meu trabalho, burocrática é minha rotina. Por falar em trabalho, o horário de saída do meu é às dezenove horas em ponto, horário esse que cumpro rigorosamente. E o trajeto trabalho-casa também é simples: pegar um ônibus do Gragoatá ao Terminal João Goulart e, dali, outro coletivo para a minha querida e amada São Gonçalo, da qual sou filho orgulhoso. Só que às vezes, bem raramente, acontecem coisas que podem ser alçadas ao patamar de redenção.
Nesse dia, em especial, ao chegar à praça do Gragoatá, já se fez por anunciar a odisseia que seria o percurso até a casa: o trânsito simplesmente parado, estático, estacionado... E, numa boa, se fosse pra ficar preso num lugar só por conta do ar condicionado, o lugar escolhido teria sido a minha sala e não o famigerado quarenta e sete normal, aquele que passa pela praia de Icaraí. Estava com um grande amigo, o Rafa, que tem em comum comigo, além da relação de quase irmão, duas paixões: a cerveja e o Flamengo... Então, não é difícil saber a atitude a ser tomada numa situação dessas. Um olhou para o outro e o comum acordo foi selado quase que em silêncio: vamos parar num bar desses aqui, jogar conversa fora e esperar o congestionamento se dissipar, molhando a palavra. É o refrigério da alma, meus amigos, quem não gosta que me perdoe. E quem gosta, conte comigo! Sábia decisão.
Decisão tomada, mesa escolhida, objetivo traçado: uma torre de chope. E lá veio ela: dois litros do mais puro líquido dourado estupidamente gelado, néctar e manjar dos deuses, que, em forma de torre, toma a direção do céu assim como a ele se elevam todos os nossos anseios, como um totem, um lugar de devoção, cujo maior louvor é o sacrifício de ser bebido. E assim fomos à torre, não com a volúpia destrutiva de um fundamentalista que quer dar uma lição ao mundo, mas com a devoção, a gratidão e a gravidade de quem recebe dos céus um presente sagrado do deus de sua crença.
Papo vai, papo vem, reclama-se da vida, fala-se de trabalho, fala-se do acúmulo de responsabilidade que se tem quando finalmente se dá conta que se é adulto, já perto dos trinta, que absurdo! Fala-se até da vontade de ser criança eternamente, mas acorda-se que o importante é manter a juventude da alma. Fala-se mal dos outros também, afinal isso é natural do homem, independente de gênero. É pecado? Mas o que seria das religiões se não houvesse o temor dos pecadores, correto? Em todo caso, peço perdão. Mas há outra coisa que é religioso das quartas-feiras e que, não fosse a grande televisão ligada, nos passaria despercebido: futebol, campeonato brasileiro, pra ser mais exato. E a transmissão era feita ao vivo do Recife (que saudade), do estádio dos Aflitos, campo do Náutico.
Aflito eu deveria estar, pois meu momento futebolístico não é dos melhores. Meu time não vai bem das pernas, já está a algumas rodadas sem vencer, somando poucos pontos. Muitos dirão que vive uma crise, mas desde que me entendo por flamenguista, há crise, seja de ordem política, administrativa ou futebolística pairando sobre a Gávea. E quando não há, fazem questão de criar. Então, grosso modo, “crise” seria o estado natural das coisas no rubro-negro, com algumas pancadas de títulos. Muitas, em verdade... É a tal da Flapress, né, que sacou o óbvio: quando o Flamengo vai bem, vende jornal; quando vai mal, vende mais ainda... Proponho um desafio, acho que seria interessante: que a imprensa deixasse de cobrir o Flamengo por um mês; que, por um mês, o Flamengo se manifestasse somente por seus veículos oficiais e, findo esse mês, veríamos, Flamengo e imprensa, quem é mesmo que precisa de quem. De acordo?
Mas chega de divagação, afinal de contas, o Flamengo não entraria em campo nessa quarta, entraria? Estamos aqui pra beber ou pra falar de futebol? Os dois, na verdade, mas deixa pra lá... Quase levo um susto quando o garçom, gente finíssima, muda a tevê de canal e, em outro campo de outra cidade, aparecem dois times diferentes maltratando a gorduchinha: um, com a camisa branca e uma faixa diagonal em preto, lembrava mais uma campanha pela conscientização do uso do cinto de segurança em automóveis. O outro, de camisa com listras horizontais em preto e vermelho, lembrava, fugaz e assustadoramente, o rubro-negro de minha devoção. Só que, passado o susto, eu me lembrei de que o Flamengo não jogaria nessa quarta, jogaria?
Futebol tem um poder hipnótico muito grande, então, rendi-me à tevê e passei a prestar atenção ao certame. Com muito custo, consegui identificar o time do “cinto de segurança”: era a Ponte Preta, a macaca, que, à sua maneira, vem fazendo um campeonato brasileiro acima das expectativas, principalmente fora de seus domínios. Digo “à sua maneira”, pois, os ponte-pretanos que me desculpem, a macaca entra no Brasileirão é lutando pra não cair, né? Uma vaguinha na sul-americana é quase título. Diferente de um Flamengo, por exemplo, que sempre briga pelo título, vaga na Libertadores é prêmio de consolação... Juro que tentei identificar a equipe de preto e vermelho, mas o máximo que consegui foi associá-lo a um Atlético Goianiense piorado, sofrível. E a Ponte corroborou com isso quando, em exatos doze segundos e poucos toques na bola, invadiu a área do adversário como quis e guardou seu primeiro gol na partida. Todos no bar disseram que quem levou aquele gol foi o Flamengo. De fato, a zaga parecia a do Flamengo, mas eu me recuso a acreditar que aquela massa heterogênea e inerte seja o time do meu coração...
Fim do primeiro tempo, fim da primeira torre. O engarrafamento persistia. Então, o que fazer a não ser pedir logo outro totem de dois litros e ver o que se sucederia no trânsito, no gramado, na vida? A torre chegou com o apito do árbitro e, copo após copo, seguimos acompanhando o suplício de futebol que se nos apresentava. E as pessoas insistindo que o preto-e-vermelho era o Flamengo. Eu teimo que não era! Eu conheço meu time! Quando que o Flamengo, jogando em casa, vai ser um time tão inerte e passivo assim? Insignificante, irrisório? Mas nunca! O Flamengo não tem nada de burocrático, pelo contrário: o Flamengo transcende... Quando que o Mengão, apoiado por sua magnética que lota jogo após jogo, independente da situação do time, vai permitir que o adversário detenha o controle das ações? Nunquinha da Silva! E assim, em meio a conversa e copos, seguiu-se o martírio daquele time que, nervoso e desorganizado, não conseguia inverter o rumo dos acontecimentos. Quase gol do rubro-negro, defesaça do goleiro adversário. A bola teimava em não entrar ou os transeuntes é que não lhe ensinavam o caminho correto a fazer? E assim, sem graça, o juiz decretou o fim do jogo. A Ponte acabou por ganhar de um desfigurado time que parece estar passando por uma crise de identidade e das brabas! Só que minha certeza era inabalável: o Flamengo que eu conheço insiste, persiste e não desiste, tem raça fibra e dedicação. Pode não conseguir, mas luta até o fim. E, quando não consegue pelos jogadores, o Manto joga sozinho! Ufa! Para meu alívio, aquele, com certeza, não era o Flamengo, ai da Nação ver um Flamengo tão inofensivo assim...
Fim do jogo, fim da torre, fim do engarrafamento. O momento de redenção daquela quarta-feira colocou a vida nos eixos e as coisas seguiam o seu rumo natural. Levanta a mão, chama o garçom gente fina, vamos pedir a conta, tá na hora de caçar o caminho de casa! Mas, antes de ir embora, foi quase que inevitável me aproveitar da gentileza do garçom e fazer a pergunta que, creio eu, todos os rubro-negros estão se fazendo nesse momento:
- O Flamengo joga quando mesmo?
SRN

* Thiago Aresta está um bocado emotivo nos últimos dias, motivo: Sharapova no US Open.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Eu tenho medo!



Otavio Meloni*

É Regina Duarte, eu também tenho medo! Medo da seleção do Mano, medo da falta de pulso do técnico com o time, medo de um time que depende dos lampejos do Neymar e do esforço absurdo que tem feito o Oscar, tenho medo. Nem vou me alongar muito neste post, o jogo nem acabou ainda, mas estou com vontade de ir jogar FIFA 12, enquanto o PES13 não chega. É um protesto: Mano não dá mais, eu desisti!

Ps: Definindo a liderança do Fluminense: "Ainda bem, mas até quando?"

* Otavio Meloni calculou seu IMC, está acima do peso, mas nem assim aceita jogar com a Seleção Brasileira nas copas do mundo de video-game.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Burro com trinta?




Thiago Aresta*


Óbvio que foi um prazer, futebolístico e de escrevedor, iniciar minhas atividades escribas nesse sítio falando, com cabeça e coração, de um Flamengo que parecia evoluir a cada jogo. Não era difícil identificar, em meio a tantas bobagens por mim escritas em linhas tortuosas que ninguém lê, certa felicidade por sentir os ventos da mudança boa soprando pelos lados da Gávea e até certa dose de otimismo em relação ao que poderia ser do meu, do seu e do nosso rubro-negro nesse segundo turno de campeonato brasileiro. As expectativas eram sim, muito boas, mas o choque de realidade era tão inevitável quanto doloroso.
A chegada do Dorival Júnior foi realmente uma lufada de ar fresco no elenco e no time do Flamengo, é comum que tal tipo de mudança reflita positivamente num grupo. E a evolução à qual me referi anteriormente era fruto dessa mudança. Tudo isso à base de muito treino, muita prática e muita disciplina tática, o que não é mistério nenhum. E o que se via dentro de campo era um time que respeitava o que aprendeu, com cada jogador em sua posição de origem, marcando bem e sem medo de atacar. Tudo apontava para um início de segundo turno promissor, mas as coisas não estão correndo assim tão bem.
Na primeira partida do returno, contra o Sport, em Volta Redonda, tudo indicava uma vitória rubro-negra: jogo em casa, contra um adversário lutando para não cair e vindo de um longo jejum de gols e vitórias. Isso parecia se confirmar quando o Ibson anotou o primeiro tento para o Flamengo. Parecia. O que se viu após o gol de empate do time pernambucano foi um Flamengo nervoso, apático, errando muitos passes (índice que vinha diminuindo) e não sendo tão agudo quando deveria, totalmente diferente daquele que vinha tendo boas atuações sob a batuta do Dorival. O Dorival, aliás, que foi personagem desse jogo: após substituir o volante Cáceres, que era considerado um “amuleto” (o que, para mim, é uma bobagem) pois, com ele em campo, o Flamengo não havia sofrido gols até então, parte da torcida o saudou com o famoso coro de “Burro!”. Precipitação de ambas as partes: acho sim que o Dorival vacilou ao substituir o Cáceres pois, por pior que ele estivesse, era o único a cumprir aquela função de primeiro volante, dando o primeiro combate e protegendo a zaga, ele poderia ter aberto mão de outro volante (Ibson ou Luiz Antônio) para ter o mesmo efeito; e, minha torcida querida, nesse pouco tempo no comando do time, o Dorival tem bem mais acertos que erros e sentenciá-lo por uma substituição malfeita soa um pouco impaciente de nossa parte. No fim do jogo, o Fla tentou o “abafa”, mas, desorganizado e nervoso, não conseguiu o gol que teria garantido mais dois pontos preciosíssimos.
Dito isto, chegamos a Porto Alegre para enfrentar o Internacional. A história recente nos tem mostrado que, salvo algumas exceções, nossas diligências ao Sul do país não têm sido tão bem sucedidas assim. O que poderia tornas as coisas mais equilibradas é o fato de que o Inter vive um momento turbulento; e o Flamengo poderia se aproveitar disso. E pareceu que iria: o presente do Muriel para o Love foi a melhor recepção que o rubro-negro poderia ter, linda assistência do goleiro colorado, Mengão um a zero. Só que tinha um tal de Forlán lá pelos pampas, que tinha que desencantar logo contra o Flamengo, para ter mais visibilidade, só pode. E, mais uma vez, após o empate do Inter, viu-se um Flamengo falhando muito e marcando pouco, nervoso, entregue, sem criatividade e reação. Prato cheio para o Inter que, em mais uma das inúmeras falhas da zaga rubro-negra, virou a partida ainda no primeiro tempo. Dorival se irritou, mexeu no time, tentou usar o Bottinelli e o Matheus para dar mais fluidez ao jogo ofensivo rubro-negro, mas nada disso adiantou. O Flamengo continuou apático, vendo o Inter jogar e o Forlán espantar a zica, guardando mais um na meta defendida por Felipe, três a um. Só o Inter jogava, tinha espeço e trabalhava a bola. Resultado: Damião foi lá e completou a sacolada, fechou o caixão: quatro a um, fora o baile...
Esperava, caríssimos irmãos em Zico, escrever palavras mais alegres, exaltando a retomada do nosso Flamengo nessa segunda metade de campeonato brasileiro. De coração. Mas a nossa realidade é bem diferente: o que temos, hoje, é fruto de uma temporada que se iniciou sem planejamento algum, sem contratações importantes e em meio a grande incerteza, seja dentro do campo, ou fora dele, já que estamos em ano de eleição no clube: um elenco limitado, que está longe de ser o pior elenco do campeonato, mas também está longe de ser competitivo, o que se pode confirmar com a posição intermediária que ocupa o Flamengo na tabela de classificação. E, por mais que tenha havido evolução na parte tática, parece faltar cancha a esse Flamengo que, por dois jogos seguidos, mostra-se entregue e muito nervoso após levar um gol, por exemplo. As grandes reviravoltas são marca histórica do Flamengo e, de fato, entristece o torcedor ver que, hoje, esse Flamengo reage tão mal (ou não reage) a alguma situação adversa. E é na história que buscamos apoio, pois, mais do que nunca, o Manto Sagrado vai ter que entrar em campo, jogar sozinho, ser o “tudo”, aquela “bastilha inexpugnável” imortalizada nas palavras de Nelson Rodrigues, tricolor que, no fundo do coração, sabia o que realmente é bom.
E, na classificação do Campeonato Brasileiro, burro com trinta e Flamengo com vinte e sete...

* Parabéns ao nosso capitão Léo Moura, pela grande marca alcançada neste domingo, ao vestir, pela quatrocentésima vez, a camisa do Flamengo. A situação atual, dele e do time, não me inspira a tecer loas maiores, mas a história que construiu nesses sete anos de dedicação ao Flamengo será sempre lembrada e respeitada pela Nação.

SRN

*Thiago Aresta, além de redator fiel deste blog e torcedor do mengão, está acompanhando o US OPEN só pra ver as pernocas da Sharapova. Além disso, em curso do Instituto Universal Brasileiro, aprendeu que o "rio é largo e a ponte, preta!".