quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Burro com trinta?





Thiago Aresta*


Óbvio que foi um prazer, futebolístico e de escrevedor, iniciar minhas atividades escribas nesse sítio falando, com cabeça e coração, de um Flamengo que parecia evoluir a cada jogo. Não era difícil identificar, em meio a tantas bobagens por mim escritas em linhas tortuosas que ninguém lê, certa felicidade por sentir os ventos da mudança boa soprando pelos lados da Gávea e até certa dose de otimismo em relação ao que poderia ser do meu, do seu e do nosso rubro-negro nesse segundo turno de campeonato brasileiro. As expectativas eram sim, muito boas, mas o choque de realidade era tão inevitável quanto doloroso.
A chegada do Dorival Júnior foi realmente uma lufada de ar fresco no elenco e no time do Flamengo, é comum que tal tipo de mudança reflita positivamente num grupo. E a evolução à qual me referi anteriormente era fruto dessa mudança. Tudo isso à base de muito treino, muita prática e muita disciplina tática, o que não é mistério nenhum. E o que se via dentro de campo era um time que respeitava o que aprendeu, com cada jogador em sua posição de origem, marcando bem e sem medo de atacar. Tudo apontava para um início de segundo turno promissor, mas as coisas não estão correndo assim tão bem.
Na primeira partida do returno, contra o Sport, em Volta Redonda, tudo indicava uma vitória rubro-negra: jogo em casa, contra um adversário lutando para não cair e vindo de um longo jejum de gols e vitórias. Isso parecia se confirmar quando o Ibson anotou o primeiro tento para o Flamengo. Parecia. O que se viu após o gol de empate do time pernambucano foi um Flamengo nervoso, apático, errando muitos passes (índice que vinha diminuindo) e não sendo tão agudo quando deveria, totalmente diferente daquele que vinha tendo boas atuações sob a batuta do Dorival. O Dorival, aliás, que foi personagem desse jogo: após substituir o volante Cáceres, que era considerado um “amuleto” (o que, para mim, é uma bobagem) pois, com ele em campo, o Flamengo não havia sofrido gols até então, parte da torcida o saudou com o famoso coro de “Burro!”. Precipitação de ambas as partes: acho sim que o Dorival vacilou ao substituir o Cáceres pois, por pior que ele estivesse, era o único a cumprir aquela função de primeiro volante, dando o primeiro combate e protegendo a zaga, ele poderia ter aberto mão de outro volante (Ibson ou Luiz Antônio) para ter o mesmo efeito; e, minha torcida querida, nesse pouco tempo no comando do time, o Dorival tem bem mais acertos que erros e sentenciá-lo por uma substituição malfeita soa um pouco impaciente de nossa parte. No fim do jogo, o Fla tentou o “abafa”, mas, desorganizado e nervoso, não conseguiu o gol que teria garantido mais dois pontos preciosíssimos.
Dito isto, chegamos a Porto Alegre para enfrentar o Internacional. A história recente nos tem mostrado que, salvo algumas exceções, nossas diligências ao Sul do país não têm sido tão bem sucedidas assim. O que poderia tornas as coisas mais equilibradas é o fato de que o Inter vive um momento turbulento; e o Flamengo poderia se aproveitar disso. E pareceu que iria: o presente do Muriel para o Love foi a melhor recepção que o rubro-negro poderia ter, linda assistência do goleiro colorado, Mengão um a zero. Só que tinha um tal de Forlán lá pelos pampas, que tinha que desencantar logo contra o Flamengo, para ter mais visibilidade, só pode. E, mais uma vez, após o empate do Inter, viu-se um Flamengo falhando muito e marcando pouco, nervoso, entregue, sem criatividade e reação. Prato cheio para o Inter que, em mais uma das inúmeras falhas da zaga rubro-negra, virou a partida ainda no primeiro tempo. Dorival se irritou, mexeu no time, tentou usar o Bottinelli e o Matheus para dar mais fluidez ao jogo ofensivo rubro-negro, mas nada disso adiantou. O Flamengo continuou apático, vendo o Inter jogar e o Forlán espantar a zica, guardando mais um na meta defendida por Felipe, três a um. Só o Inter jogava, tinha espeço e trabalhava a bola. Resultado: Damião foi lá e completou a sacolada, fechou o caixão: quatro a um, fora o baile...
Esperava, caríssimos irmãos em Zico, escrever palavras mais alegres, exaltando a retomada do nosso Flamengo nessa segunda metade de campeonato brasileiro. De coração. Mas a nossa realidade é bem diferente: o que temos, hoje, é fruto de uma temporada que se iniciou sem planejamento algum, sem contratações importantes e em meio a grande incerteza, seja dentro do campo, ou fora dele, já que estamos em ano de eleição no clube: um elenco limitado, que está longe de ser o pior elenco do campeonato, mas também está longe de ser competitivo, o que se pode confirmar com a posição intermediária que ocupa o Flamengo na tabela de classificação. E, por mais que tenha havido evolução na parte tática, parece faltar cancha a esse Flamengo que, por dois jogos seguidos, mostra-se entregue e muito nervoso após levar um gol, por exemplo. As grandes reviravoltas são marca histórica do Flamengo e, de fato, entristece o torcedor ver que, hoje, esse Flamengo reage tão mal (ou não reage) a alguma situação adversa. E é na história que buscamos apoio, pois, mais do que nunca, o Manto Sagrado vai ter que entrar em campo, jogar sozinho, ser o “tudo”, aquela “bastilha inexpugnável” imortalizada nas palavras de Nelson Rodrigues, tricolor que, no fundo do coração, sabia o que realmente é bom.
E, na classificação do Campeonato Brasileiro, burro com trinta e Flamengo com vinte e sete...

* Parabéns ao nosso capitão Léo Moura, pela grande marca alcançada neste domingo, ao vestir, pela quatrocentésima vez, a camisa do Flamengo. A situação atual, dele e do time, não me inspira a tecer loas maiores, mas a história que construiu nesses sete anos de dedicação ao Flamengo será sempre lembrada e respeitada pela Nação.

SRN

*Thiago Aresta, além de redator fiel deste blog e torcedor do mengão, está acompanhando o US OPEN só pra ver as pernocas da Sharapova. Além disso, em curso do Instituto Universal Brasileiro, aprendeu que o "rio é largo e a ponte, preta!".

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