domingo, 30 de setembro de 2012

De (nem) tudo fica um pouco...




Thiago Aresta*


Drummond que me desculpe pelo inconveniente de usar um verso de um dos seus poemas mais belos para capitular esse texto, mas foi o título que me veio à cabeça enquanto escrevia essas linhas tortas. Mas o que fica de um domingo desses? É ruim pra cacete, pra quem gosta de futebol, é claro, fazer qualquer coisa após uma derrota de seu time do coração. Comigo não é diferente, amigos. E escrever, então... Tentar aprisionar em palavras esses pensamentos que insistem em voar tão rápido, mas me cabe fazê-lo. Vai que assim eu consigo me livrar dessa sensação de frustração. É isso, estava procurando uma palavra pra definir essa sensação de estar extático após ter presenciado mais um revés ruim de digerir. Frustração define.

Três pontos deixados no gramado do Estádio Olímpico João Havelange, menos três num campeonato que começa a afunilar. E perdidos para um time que, dizem os entendidos, “jogou como campeão”. Então, segundo a ótica dos entendidos, um campeão é aquele time que passa noventa minutos em busca de uma bola, um gol e, quando consegue, já no início da partida, passa o resto do tempo se defendendo, numa retranca intransponível, abdica do jogo e passa a contar com o relógio... Isso é “jogar como campeão”? Recuso-me a comprar tal ideia. É, no máximo, sorte, uma fétida e consistente cagada. Agora vejo estes mesmos entendidos exaltando o técnico do time em questão como um “estrategista”. Agora vocês vejam, um Joel sem prancheta, que chegou no livro dois do cursinho de inglês e com grife (?). Claro, agora estratégia é tirar um centroavante pra pôr um volante e entregar o meio-campo ao adversário... E já ia me esquecendo, estrategistas desse naipe não fazem retranca: têm, no máximo, um “forte esquema defensivo”.

Faz parte da estratégia também insistir no famoso “cai-cai”. Alguém do Flamengo encostava em algum jogador adversário e pronto: tava lá um corpo da turma do caipisaquê estendido no chão. E param o jogo, entra equipe médica, sai gente de carrinho. E o tempo passa... Mas o relógio estava a favor do adversário, quem se importa? E o juiz sendo conivente com essa estratégia de terceira do adversário para fazer o tempo passar... Numa boa, a caterva de arbitragem parece ter vindo bem, digamos, orientada para essa partida; o juiz não influenciou no resultado, isso seria óbvio, mas, através dos dois pesos e duas medidas na hora de conceder faltas e, consequentemente, consignar cartões, acabou por minar o Flamengo no detalhe, observem bem a perversidade. Quanto ao cai-cai e à milonga do nosso adversário, só tenho uma coisa a dizer: um time pode até sair da terceira divisão (na marra e no tapetão), mas a terceira divisão não sai do time. De jeito nenhum. Se bem que cai-cai (ou melhor, cai-cai-cai) é uma prerrogativa, uma peculiaridade, uma vocação desse nosso oponente, né...

Mas, meu amigo, o futebol não faz justiça, não tem merecimento e tem um dado imponderável e inquestionável: bola na rede. Esse negócio de “vencedor moral” é conversa pra urubu dormir! Não tem lero-lero nem vem cá que eu também quero. E nisso falhou o Flamengo. Por mais aguerrido que tenha sido (no segundo tempo), por mais que tenha criado, por mais que tenha tido a bola, por menos passes que tenha errado, faltou botar a gorduchinha pra dormir tranquila no filó. No primeiro tempo, o Flamengo teve boas chances, mas faltou aquela tenacidade de não perdoar... As duas mais claras saíram, cronológica e respectivamente, da cabeça e dos pés do ZZZZZZibson que, na primeira, sozinho, pôs a bola rente a trave e, na segunda, após boa tabela, não teve o tesão que deve ser peculiar àquele agraciado que fica na cara do gol. Cabeçada do Nixon, INACREDITÁVEL do Cléber Zidane ops Santana, Love sem conseguir dominar uma bola sequer... É, parece que de quarta passada não ficou nada para o time... Mas a Magnética fez seu papel e, mais uma vez compareceu, mesmo sem promoção, cantou, aplaudiu, apoiou, entoou o hino, mas, dessa vez, não conseguiu fazer gol.

Até que, num bololô na área, parou tudo! O juiz apitou e apontou a cal: penalidade máxima para o Mengão! Wellington Silva (que, diga-se de passagem, fez mais uma boa partida, com direito a caneta no lateral-esquerdo do lado de lá, o de çelessaum) foi derrubado por um brucutu de estimação do “estrategista” e o apitador-candidato-a-vereador-em-Itaboraí não hesitou. Festa da Magnética, parecia que finalmente viria a redenção e a chance de gritar bem alto pro Mengão o quanto gostamos dele, ainda mais forte quando de um gol. Só que, se não é o dia, não é o dia, mais uma vez, não teve jeito.

Um pênalti, todos sabemos, é um momento único, o ápice de uma partida. É tão importante que alguns dizem que tem que ser cobrado pelo presidente do clube (se bem que, no nosso caso, isso só conseguiria fazer com que a coisa se sucedesse de maneira ainda mais tétrica). É um momento de protagonismo e, obviamente, tem de ser convertido por um protagonista. Taí outra carência desse elenco do Mengão: não tem um líder, um “patrão”, um cara que chame a responsa, que bata no peito, peite treinador e diga que vai bater e pronto, dane-se se vai fazer ou não. Que tenha colhões, em suma. Essa cobrança poderia ter sido feita pelo Renato que, mesmo voltando de contusão, é forte em bola parada; mas não foi. Pelo Cléber Santana que, mesmo não sendo uma Brastemp, mostra um pouco de categoria; mas ele estava extenuado. Pelo Love que, mesmo não conseguindo dominar uma bola direito, briga pela artilharia do campeonato e um golzinho a mais não seria nada mal; mas ele não tinha treinado esse fundamento. Sobrou pro Bottinelli, nosso argentino do Paraguai que, a seu favor, tinha aquela partida mágica que virou contra esse oponente, a mística.

E só a mística não foi suficiente...

O que fica desse jogo? A entrega, a vontade, o apoio da torcida. O que espero que não fique: essa falta de sorte que insiste em nos acompanhar e a falha defensiva que deu chance ao azar. Mas um alento, ainda que de leve, é perceber que, se forçar um pouco mais, correr um pouco mais, acreditar um pouco mais, a gente faz esse urubu voar ainda mais alto, ainda nesse campeonato.

E em verdade, em verdade vos digo, caríssimos irmãos em Zico: no mundo do futebol, existem duas coisas, o Flamengo e o resto. O Flamengo, nós amamos, acompanhamos e cobramos, esse permanece.
Já o resto...

(Eu ouvi um “amém”?)

SRN

*Thiago Aresta está meio amargo neste post pois provou da lúdica visão do que é futebol de Abel Braga. Esperamos que ele se aclame, pois o Fla ainda precisa de nove pontos pra sair da degola de vez!

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